São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DIA DA CAÇA

Peemedebista, que se considera traído pelo presidente do Senado, declarou apoio ao pefelista José Thomaz Nonô já no primeiro turno

Temer ataca Renan ao anunciar desistência

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Com um duro discurso contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a articulação política do governo, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), renunciou ontem à sua candidatura para dirigir a Câmara e convocou a bancada do seu partido a votar no candidato da oposição, o pefelista José Thomaz Nonô (AL).
No pronunciamento de 15 minutos, Temer acusou Renan de ter trabalhado a mando do Palácio do Planalto para esvaziar sua candidatura e angariar votos para Aldo Rebelo (PC do B-SP). Em seguida, em entrevista, foi ainda mais direto ao expor a rusga: "Sugiro ao Renan que procure outras companhias, porque na minha ele não se dará bem". Disse também que a manobra governista "agrava a relação do PMDB com o governo".
Após desistir de concorrer, Temer se reuniu com Nonô, na noite de anteontem, para negociar o apoio de pouco mais de 30 peemedebistas que o seguiriam. No encontro, decidiu que anunciaria publicamente seu apoio a Nonô na tribuna em retaliação à articulação governista.
"Esta Casa não pode vergar-se ao Poder Executivo, mas também não deve hostilizá-lo. Ao ler a Constituição Federal, verifica-se o tema da independência e harmonia entre os Poderes. Agora, fazer desta Casa uma sucursal, seja da presidência do Senado Federal ou do Executivo, é a negação do texto constitucional", discursou.
Ex-presidente da Câmara por dois mandatos, Temer iniciou seu pronunciamento afirmando que jamais havia pensado em voltar a se candidatar ao posto, mas que fora convencido por colegas na Casa a disputar, entre eles o próprio Renan. Em tom de ironia, afirmou que "almoçava com o eminentíssimo, exatíssimo, excelentíssimo, extraordinário presidente do Senado, Renan Calheiros", quando houve um acerto para que ele competisse.
"Sua Excelência [Renan] me colocou ao telefone com o eminente presidente José Sarney, esse estadista que prestou um serviço extraordinário ao país e confio em sua palavra, e me disse que o ideal seria ir até o fim. Fez-se uma reunião da bancada, que me lançou por unanimidade", afirmou.
Segundo ele, entretanto, sua candidatura começou a minguar duas horas depois de um encontro com Renan. "Fui a uma espécie de missão partidária, isso se deu às 7h da noite, para que logo, às 9h da noite, a articulação do eminente presidente do Senado fosse feita em outra direção."
O senador José Sarney (PMDB-AP) afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se sente atingido pelas palavras de Temer e que tem "o maior apreço" pelo presidente do PMDB, mas que não concorda com o que ele falou a respeito de Renan.
Ele também voltou a ser aplaudido ao citar uma nota publicada no blog do jornalista Jorge Moreno, a qual afirma que Renan "comete falta de decoro e crime de prevaricação, perdendo a autoridade para conduzir qualquer reforma política que trate de fidelidade partidária".
No discurso, Temer reclamou que a articulação de Renan retratava "a distância entre palavra e ação". "Posso tratar da fidelidade partidária, outros tantos dão o mau exemplo da chamada incorreção política e nos desmoralizam perante a opinião pública."
Na seqüência, disse que só apontava três nomes para assumir a direção da Câmara atualmente: o dele próprio, o primeiro-secretário, Inocêncio Oliveira (PL-PE), e José Thomaz Nonô. Disse também, na sua opinião, o ideal é que, no futuro, fosse feita uma alteração regimental autorizando o 1º vice-presidente a herdar o posto em caso de vacância.
O peemedebista terminou seu discurso pedindo votos para Nonô na sucessão de Severino Cavalcanti. "Renuncio à minha candidatura e declaro apoio explícito e definido aos meus companheiros do PMDB, que não agirão como sacripantas."


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: "Ele me culpa por seus erros", afirma senador
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.