São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2007

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Outro lado

Fiscais abusaram, diz diretor da fazenda

Marcos Villela Zancaner, diretor-presidente da Pagrisa, nega as irregularidades apontadas pelo Ministério do Trabalho

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA

O diretor-presidente da Fazenda Pagrisa, Marcos Villela Zancaner, negou as irregularidades na propriedade e disse que houve "abuso de autoridade" por parte dos fiscais do Ministério do Trabalho.
Sobre trabalhadores que não recebem salários, o empresário disse que houve um equívoco de uma funcionária dos Recursos Humanos, que trabalha com a folha de pagamento. Ele diz que todos os funcionários têm carteira de trabalho assinada, conta no Banco do Brasil e recebem pelo que trabalham. Também disse que a folha de pagamento da empresa varia entre R$ 750 e R$ 2.000. "Tive um funcionário que ganhava R$ 2.000 e que, mesmo assim, deixou a empresa na época da fiscalização", afirmou.
Sobre os alimentos, Zancaner alega que a Nutrivita, "empresa séria que também atende a Coca-Cola e a Vale do Rio Doce", é a responsável pelo fornecimento. Ele negou que houve distribuição de equipamentos de seguranças no dia da fiscalização. Segundo ele, a empresa possui técnicos que vão a campo substituir equipamentos rasgados por novos.
O empresário admitiu que, "naquela hora de sufoco", procurou o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), por meio de um amigo em comum. "Como a fazenda é distante, ele me pediu para disponibilizar um avião e nós disponibilizamos".
Zancaner também negou todos os maus-tratos apontados pelos três trabalhadores ouvidos pela Folha. "Nunca ouvi falar de bicho em comida", disse.
"Quando os fiscais foram lá, comeram essa comida. Se tivesse bicho, você acha que eles comeriam?", questionou.
Em relação ao local onde os cortadores de cana ficavam, disse que é "da cultura" do Pará a colocação de redes em vez de camas. A suposta superlotação, afirmou, nunca aconteceu.
"O que houve é que, um tempo atrás, a gente teve um problema com um gerador de energia e tivemos que colocar o pessoal de um alojamento em outro. Mas quando os fiscais chegaram havia até dois alojamentos vazios. Sobrava lugar", afirma ele.
Afirmou ainda que boa parte das má condições desses locais se deve a depredações e ao fato de que, quando os fiscais chegaram, os funcionários da limpeza pararam de trabalhar.
Zancaner, sobrinho-neto do senador paulista Orlando Zancaner (1923-1995), disse estar vivendo uma injustiça. "É injusto demais da conta. Eu jogo bola com os funcionários, meus filhos estudam no mesmo colégio que os filhos deles estudam. Somos gente simples."
A Pagrisa também fez um "contra-relatório" para responder à autuação. Segundo o relatório, um dos 44 alojamentos da empresa estava com problemas.
"As pequenas irregularidades são absolutamente insuficientes para caracterizar o trabalho em condições degradantes ou análogas a de escravo", afirma o relatório.
A empresa diz ainda que o fiscal "aliciou" os trabalhadores, "prometendo o pagamento de todos os salários do contrato de safra, um salário de aviso prévio, mais três salários de seguro-desemprego, e mais, tudo isso para ficar em casa".


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