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Brasil dá refúgio a 2 atletas de Cuba que desertaram no Pan
Rafael Capote e Michel Fernandez Garcia terão direitos de quem nasceu no país
Segundo a assessoria do Ministério da Justiça, caso dos boxeadores cubanos deportados pela Polícia Federal não foi discutido
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Conare (Comitê Nacional
para os Refugiados) concedeu
refúgio ontem a dois atletas cubanos que desertaram durante
os Jogos Pan-Americanos do
Rio de Janeiro há quase dois
meses: Rafael da Costa Capote,
da equipe de handebol, e o ciclista Michel Fernandez Garcia
terão quase todos os direitos de
quem nasceu no Brasil, exceto
votar e deixar o país sem avisar
as autoridades.
A decisão do Conare, que
além do governo possui representantes das Nações Unidas e
da Igreja Católica, foi consensual. Segundo nota divulgada
pelo Ministério da Justiça, que
preside o comitê, o refúgio foi
concedido "com base nos depoimentos prestados e alegações" feitas pelos esportistas.
Segundo a legislação brasileira, o governo pode conceder refúgio quando o estrangeiro provar que sofre perseguição ou
receia voltar ao país de origem
por questões políticas, étnicas
ou religiosas. Há no Brasil
3.420 refugiados, de 69 nacionalidades, 78% delas africanas.
O Conare é responsável pela
análise dos casos e pela concessão do refúgio. As reuniões
acontecem entre um mês e
meio a dois meses uma da outra. O encontro de ontem foi o
primeiro depois dos Jogos.
O Ministério da Justiça informou, por intermédio de sua
assessoria de imprensa, que o
Conare não discutiu o caso dos
boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que foram deportados pela Polícia
Federal em agosto.
A Folha solicitou entrevista
com o presidente do Conare,
Luiz Paulo Barreto, para esclarecer por que o comitê não
abordou o episódio, mas não
foi atendida. Segundo a assessoria, todos os integrantes do
comitê conheciam bem o caso a
partir de relatos da imprensa.
Deportação
O cuidado com o caso de Capote e Garcia difere da atuação
da Polícia Federal no início de
agosto, quando os também desertores Lara e Rigondeaux foram deportados menos de 48
horas após serem localizados
no interior do Estado do Rio.
O Ministério da Justiça argumenta que os dois boxeadores
negaram a suposta oferta de refúgio feita pela Polícia Federal
durante dois interrogatórios a
que os atletas foram submetidos. No intervalo entre um depoimento e outro, os atletas ficaram detidos pela própria Polícia Federal, que nega erros na
condução do caso.
Hoje secretário nacional de
Segurança Pública, Antonio
Carlos Biscaia, classificou à
época como "equívoco" a deportação dos dois cubanos e
disse que a PF agiu sem base jurídica. No início de agosto,
quando avaliou a deportação à
Folha, Biscaia era secretário
Nacional de Justiça.
Depois de voltar a Cuba, os
dois atletas passaram a viver
uma situação de abandono. Documento enviado pelo Ministério das Relações Exteriores à
Câmara dos Deputados informa que os dois pugilistas vivem
em Havana, descartados por
antigos colegas de boxe, treinando sozinhos com a esperança de voltar à equipe.
As circunstâncias da deportação, sob discussão da Comissão de Relações Exteriores da
Câmara dos Deputados, correm o risco de permanecerem
desconhecidas. Nesta semana,
o governo cubano informou à
comissão que passou a considerar o caso como um assunto interno e não discutirá detalhes
com os deputados.
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