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João Paulo, "zen", não adota estilo "light"
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Classificado como o mais "zen"
dos políticos pernambucanos, o
candidato do PT a prefeito de Recife, João Paulo, é adepto há dez
anos da meditação transcendental e da alimentação macrobiótica. Seus hábitos alternativos já entraram para o folclore político do
Estado.
Deputado estadual desde 1990,
ele foi alvo de ironias e piadas
quando promoveu uma sessão de
meditação e levitação na Assembléia Legislativa.
Uma pequena multidão, formada por jornalistas, políticos e curiosos, se reuniu para o esperado
espetáculo: João Paulo e petistas
levitando.
O resultado decepcionou os
presentes. O que se viu foram alguns meditantes sentados e com
as pernas cruzadas dar pequenos
saltos no ar. Os pulos, de acordo
com eles, eram uma das etapas
para a levitação.
Desde então, o episódio é repetido à exaustão nas conversas de
aliados e adversários de João Paulo.
Estresse
Seus costumes chegaram a ser
confundidos com atividade religiosa, mas João Paulo afirma que
a prática deles não tem nada a ver
com crença. Pelo menos duas vezes por dia ele comanda sessões
coletivas de meditação.
O mesmo acontece nos dias que
precedem eventos importantes,
como a eleição de hoje. "A finalidade é reduzir o estresse individual e coletivo", conta o petista,
um homem alto, magérrimo e de
fala baixa e calma.
Esse perfil alternativo nos hábitos pessoais não se repete na militância do petista, identificado
com as alas mais radicais da sigla.
João Paulo fez uma campanha
mais dura que a do chamado "PT
light". Não hesitou em atacar a
política econômica de FHC, em
defender o socialismo praticado
em Cuba e em carimbar Roberto
Magalhães (PFL), prefeito e adversário no segundo turno da eleição em Recife, como "mentor da
ditadura militar". Até o ex-juiz
Nicolau dos Santos Neto é debitado na conta de Magalhães por ter
aparecido no noticiário como um
juiz que ajudava o Palácio do Planalto e o Plano Real, segundo entrevista do ex-secretário-geral da
Presidência Eduardo Jorge Caldas
Pereira.
Os adversários de João Paulo
bateram na tecla de que ele defende a ditadura de Fidel Castro. Ele
diz ter restrições ao regime castrista. Mesmo assim, defende o
governo cubano e usa como
exemplo os desempenhos obtidos
nas últimas Olimpíadas: "Apesar
de todo o boicote e embargo imposto ao país, Cuba, um país pobre, conseguiu 11 medalhas de ouro na Olimpíada, enquanto o Brasil, oitava potência do mundo, teve um resultado catastrófico".
Modelo
Ex-metalúrgico e ex-militante
da Ação Católica Operária, João
Paulo diz que defende a implantação do "socialismo democrático"
no país porque o modelo de desenvolvimento capitalista "tem se
mostrado incompetente para resolver os problemas da humanidade". Declara que, apesar de defender o socialismo para o Brasil,
sabe das dificuldades para "que
haja mudanças isoladas". "Hoje,
existe uma interdependência entre os países."
Para o petista, que completa 48
anos na próxima terça-feira, o
conceito de política, hoje, é o da
"arte de fazer alianças". Sua coligação no segundo turno seria um
exemplo dessa "arte": reúne de
radicais do PSTU a lideranças
conservadoras dissidentes da
aliança que apóia seu adversário,
Roberto Magalhães (PFL). Exemplo: o deputado federal e líder
evangélico Salatiel Carvalho, que
pertence ao PMDB, partido do
governador Jarbas Vasconcelos, o
principal cabo eleitoral do prefeito licenciado.
"Não há razão para o PT não receber as forças que se incorporam
ao nosso projeto", diz o candidato. "Não há mal nenhum, desde
que sejam respeitados os princípios da ética, da decência, e que
seja garantido o princípio da
transparência", afirma.
(FÁBIO GUIBU)
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