São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2000

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João Paulo, "zen", não adota estilo "light"

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Classificado como o mais "zen" dos políticos pernambucanos, o candidato do PT a prefeito de Recife, João Paulo, é adepto há dez anos da meditação transcendental e da alimentação macrobiótica. Seus hábitos alternativos já entraram para o folclore político do Estado.
Deputado estadual desde 1990, ele foi alvo de ironias e piadas quando promoveu uma sessão de meditação e levitação na Assembléia Legislativa.
Uma pequena multidão, formada por jornalistas, políticos e curiosos, se reuniu para o esperado espetáculo: João Paulo e petistas levitando.
O resultado decepcionou os presentes. O que se viu foram alguns meditantes sentados e com as pernas cruzadas dar pequenos saltos no ar. Os pulos, de acordo com eles, eram uma das etapas para a levitação.
Desde então, o episódio é repetido à exaustão nas conversas de aliados e adversários de João Paulo.

Estresse
Seus costumes chegaram a ser confundidos com atividade religiosa, mas João Paulo afirma que a prática deles não tem nada a ver com crença. Pelo menos duas vezes por dia ele comanda sessões coletivas de meditação.
O mesmo acontece nos dias que precedem eventos importantes, como a eleição de hoje. "A finalidade é reduzir o estresse individual e coletivo", conta o petista, um homem alto, magérrimo e de fala baixa e calma.
Esse perfil alternativo nos hábitos pessoais não se repete na militância do petista, identificado com as alas mais radicais da sigla. João Paulo fez uma campanha mais dura que a do chamado "PT light". Não hesitou em atacar a política econômica de FHC, em defender o socialismo praticado em Cuba e em carimbar Roberto Magalhães (PFL), prefeito e adversário no segundo turno da eleição em Recife, como "mentor da ditadura militar". Até o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto é debitado na conta de Magalhães por ter aparecido no noticiário como um juiz que ajudava o Palácio do Planalto e o Plano Real, segundo entrevista do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira.
Os adversários de João Paulo bateram na tecla de que ele defende a ditadura de Fidel Castro. Ele diz ter restrições ao regime castrista. Mesmo assim, defende o governo cubano e usa como exemplo os desempenhos obtidos nas últimas Olimpíadas: "Apesar de todo o boicote e embargo imposto ao país, Cuba, um país pobre, conseguiu 11 medalhas de ouro na Olimpíada, enquanto o Brasil, oitava potência do mundo, teve um resultado catastrófico".

Modelo
Ex-metalúrgico e ex-militante da Ação Católica Operária, João Paulo diz que defende a implantação do "socialismo democrático" no país porque o modelo de desenvolvimento capitalista "tem se mostrado incompetente para resolver os problemas da humanidade". Declara que, apesar de defender o socialismo para o Brasil, sabe das dificuldades para "que haja mudanças isoladas". "Hoje, existe uma interdependência entre os países."
Para o petista, que completa 48 anos na próxima terça-feira, o conceito de política, hoje, é o da "arte de fazer alianças". Sua coligação no segundo turno seria um exemplo dessa "arte": reúne de radicais do PSTU a lideranças conservadoras dissidentes da aliança que apóia seu adversário, Roberto Magalhães (PFL). Exemplo: o deputado federal e líder evangélico Salatiel Carvalho, que pertence ao PMDB, partido do governador Jarbas Vasconcelos, o principal cabo eleitoral do prefeito licenciado.
"Não há razão para o PT não receber as forças que se incorporam ao nosso projeto", diz o candidato. "Não há mal nenhum, desde que sejam respeitados os princípios da ética, da decência, e que seja garantido o princípio da transparência", afirma.
(FÁBIO GUIBU)


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