|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PARTIDOS
País pode ter desagregação como a Venezuela, diz cientista político
"Desigualdade ameaça democracia"
DO ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
O cientista político Fabiano
Santos, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro), disse ontem que a desigualdade social do país pode afetar a democracia e que, no "momento de inflexão" que vivemos,
se o governo Luiz Inácio Lula da
Silva não responder às expectativas de atacar esse problema, pode
haver uma "desagregação do sistema partidário" brasileiro.
"Só há duas alternativas: ou um
outro partido [que não o PT] é eficiente no sentido de se comunicar
com a classe média e se manter a
aposta no avanço de políticas sociais, ou você tem uma desagregação do sistema partidário, à la Venezuela. O que aconteceu lá é que
os partidos que vinham se consolidando se espatifaram, e hoje em
dia o presidente não é nem de um
partido, é de um movimento",
disse Santos.
Ele deu entrevista após participar do debate "Vinte anos depois:
lições da experiência democrática
brasileira", no 28º Encontro
Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), que
acontece até amanhã em Caxambu (MG).
A referência à classe média deve-se a uma pesquisa realizada
por Santos no Iuperj que mostra
maior identificação político-partidária nesses estratos do que no
topo ou na base da pirâmide social. Nas faixas intermediárias de
renda, pelo menos 50% dos entrevistados disseram se identificar
com algum partido brasileiro. Entre ricos e pobres, a proporção diminui para 30% ou menos.
Segundo Santos, a "alienação"
nas faixas extremas deve-se, na
classe alta, ao razoável grau de autonomia em relação a decisões
governamentais e, na baixa, à exclusão e conseqüente baixa adesão à democracia.
"Situação explosiva"
Daí ele dizer que a desigualdade
ameaça a democracia e afirmar
temer uma possível "situação explosiva". Especialmente pelo fato
de, entre os entrevistados, a maioria apontar o PT como o "defensor dos pobres e da luta contra a
desigualdade".
"Tenho receio disso -que a
fração social inorgânica comece a
ser persuadida e apostar em coisas desse tipo, movimentos carismáticos, evangélicos etc.", declara. "É preciso tomar cuidado. Desemprego, desigualdade, falta de
eficiência dos partidos na resolução desses problemas é o caldo de
cultura para o nazi-fascismo, para
aventuras autoritárias."
Apesar desse temor num momento que diz ser crucial, até
aqui, em 20 anos de democracia
após o regime militar, Santos afirma que o engajamento democrático dos brasileiros é muito grande e o quadro partidário bastante
estável.
A nota dissonante é que pesquisas sobre democracia na América
Latina indicam que quase 60%
dos entrevistados dizem acreditar
que "o desenvolvimento econômico é mais importante que a democracia".
"Tem a ver com as condições de
vida, na medida em que o ambiente democrático não está dando resposta para isso. O "desenvolvimento" responde a questões
de sobrevivência e auto-estima",
diz Santos.
(RAFAEL CARIELLO)
Texto Anterior: Ministério público: STJ reconhece investigação de promotores Próximo Texto: Frases Índice
|