São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

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Propina da Alstom chega a US$ 430 mi, afirma Suíça

Total de repasses a funcionários públicos estrangeiros foi divulgado por tribunal penal

Empresa é investigada sob a suspeita de ter subornado servidores de vários países, incluindo Brasil, em troca de favorecimento em licitações

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O volume de propinas pagas pela multinacional francesa Alstom a funcionários estrangeiros pode ter sido superior a US$ 430 milhões. O cálculo é da Justiça suíça, que investiga a suspeita de que a empresa subornou servidores de vários países, incluindo o Brasil, para ser favorecida em licitações de projetos públicos.
Segundo informações divulgadas ontem pelo Tribunal Federal Penal em Bellinzona, na parte italiana da Suíça, a Alstom pode ter pago mais de US$ 60 milhões por ano em propinas entre 1998 e 2003. O suborno era mascarado como "pagamento de consultorias", mas as empresas beneficiadas serviam para lavar e transferir o dinheiro da corrupção.
Os procuradores suíços consideram os pagamentos suspeitos porque muitos deles envolviam empresas que jamais prestaram nenhum consultoria à gigante francesa. Em alguns casos, afirmam, há provas de que o dinheiro acabou nas mãos de funcionários públicos de Itália, Zâmbia e México.
A Folha procurou a corte de Bellinzona, o Ministério Público e o Ministério da Justiça para saber se o Brasil também estava entre os países que receberam propinas da Alstom. Até o fechamento desta edição não havia recebido resposta.
Mas o Ministério Público já havia informado que há pelo menos três investigações em curso, e que uma delas é sobre o uso de bancos suíços para pagar propinas no Brasil.
A principal suspeita envolve o pagamento de US$ 6,8 milhões a integrantes do governo paulista para ganhar licitação de US$ 45 milhões do Metrô.
Há indícios, segundo os papéis divulgados ontem, de que foram pagas propinas de cerca de 1 milhão de euros (US$ 1,25 milhão) entre janeiro de 2001 e abril de 2003 a um funcionário na Zâmbia. O pagamento teria sido feito por meio de diversas empresas "offshore".
Além disso, duas companhias suíças apresentaram contas de mais de 10 milhões de francos (US$ 8,6 milhões) à Alstom, supostamente como parte do esquema de lavagem de propinas.
A Justiça suíça informou que o ex-executivo da Alstom que havia sido preso em agosto, em uma grande operação de busca e apreensão em escritórios da empresa no país, foi libertado no último dia 10, depois de superado o risco de que ele destruísse provas do caso.
A corte não forneceu o nome do executivo, mas ele foi identificado pela imprensa francesa como Bruno Kaelin, que teria coordenado o pagamento das propinas no Brasil e na Venezuela. Kaelin é acusado de gestão fraudulenta, corrupção e lavagem de dinheiro.


Com agências internacionais


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