São Paulo, Segunda-feira, 29 de Novembro de 1999


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OPOSIÇÃO
Zé Dirceu é reeleito presidente do partido; slogan "Fora FHC" é rejeitado
Congresso fortalece moderados do PT

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

PATRÍCIA ANDRADE
enviada especial a Belo Horizonte

O 2º Congresso Nacional do PT, encerrado ontem em Belo Horizonte com a reeleição do deputado federal José Dirceu (SP) para a presidência do partido, frustrou as expectativas dos próprios petistas. A maioria esperava avanços nas formulações de propostas concretas para o país e um aprofundamento no debate sobre temas mais ideológicos, como as discussões sobre que tipo de socialismo o partido vai defender.
Do ponto de vista da política interna, o encontro deu vitória à ala moderada do partido, que reelegeu Dirceu por 496 dos 914 votos e conseguiu 54,49% dos 81 cargos no Diretório Nacional. "Com esse resultado, a direção do PT vai poder implantar suas políticas sem ficar refém da minoria (a esquerda do partido)", afirmou o governador do Acre, Jorge Viana.
"Vou trabalhar para desbloquear o PT e acabar com essa história de campo majoritário e minoritário", afirmou Dirceu.
O deputado Milton Temer, candidato dos radicais, obteve 296 votos (32,7% do total). Arlindo Chinaglia, do "Movimento PT", grupo de "centro" no espectro petista, ficou em terceiro lugar com 113 votos (12% dos delegados).
No encontro nacional anterior, em 97, a disputa pela presidência do partido foi mais polarizada entre radicais e moderados. Isso porque o grupo de Chinaglia se aliou a Temer, que perdeu a eleição para Dirceu por apenas 28 votos de diferença.
O encontro acabou tendo como tema principal a discussão sobre se o partido iria ou não adotar o slogan "Fora FHC", que prega o impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Esse foi um dos piores encontros. Ficou pautado pelo "Fora FHC". Faltou avançar na discussão sobre qual programa de governo queremos para o país e no debate sobre o socialismo", disse o líder do PT na Câmara, José Genoino (SP).
"Não temos um projeto para o Brasil. Queremos ganhar a eleição, mas não temos um projeto político. O PT é um partido sem rumo", criticou o ex-deputado federal Vladimir Palmeira (RJ), da ala esquerdista da legenda.
O "Fora FHC" foi rejeitado após muito confronto em plenário na noite de sábado. Seu resultado reafirmou a maioria que os moderados têm no partido.
Essa hegemonia dos moderados também foi expressa na aprovação da tese que vai nortear o futuro programa do partido. A tese escolhida pelos petistas foi apresentada pela "Articulação", corrente de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dirceu, que conseguiu aprovar quase todos os pontos propostos. A exceção ficou por conta do slogan.
Os moderados não propuseram a adoção dessa palavra de ordem, mas negociaram outra posição porque havia divergências dentro da própria "Articulação". A emenda aprovada reconhece o direito das entidades sociais de defenderem o slogan nas ruas.
"Tínhamos a pretensão de fazer um congresso para discutir o programa do PT, o plano de lutas para enfrentar a crise e o novo estatuto. Mas setores da esquerda conduziram o encontro para o esvaziamento com o "Fora FHC'", disse o deputado Marcelo Déda (SE), da "Articulação".
Temer rechaçou essa colocação. Segundo ele, os radicais também não queriam reduzir o congresso a um único assunto. "Quem pautou esse tema foi a Marcha dos Cem Mil (realizada em Brasília) e os diretórios de 24 Estados que aprovaram o "Fora FHC'", disse.
A força da esquerda do PT foi mostrada ao obrigar os moderados a mudar a proposta na questão do "Fora FHC". Vitoriosos, os moderados querem agora comandar o partido com pulso mais forte, aliando-se ao "Movimento PT" e com setores da esquerda, como a "Democracia Socialista", liderada pelo prefeito de Porto Alegre, Raul Pont. Se conseguirem se unir ao grupo de Chinaglia, terão quase 70% de representação na direção nacional.


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