São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 2005

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Equipe econômica sempre busca superar meta

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ter sido iniciada por causa do nível do ajuste fiscal para este ano, a disputa entre os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil) extrapola 2005 e baseia-se no fato de a equipe econômica sempre trabalhar com um superávit primário maior do que a meta oficial.
Desde o início do governo, a história tem sido a mesma: ao longo do ano, o controle de caixa imposto pela Fazenda e pelo Planejamento gera uma economia bem maior do que a necessária.
Com isso, o setor público chega ao último bimestre do ano com uma sobra de recursos que não é gasta integralmente pelos ministérios até dezembro, e o chamado superávit primário, que serve para cobrir as despesas com juros que incidem sobre a dívida pública, fica acima do previsto.
Neste ano, a economia extra foi recorde. De janeiro a outubro, o setor público consolidado economizou o equivalente a 5,97% do PIB, cerca de R$ 95 bilhões. Esse valor é 1,72 ponto percentual acima da meta de 4,25% do PIB (R$ 82,75 bilhões). Faltando pouco para encerrar 2005, Dilma e Palocci sabem que não haverá tempo suficiente para consumir essa diferença, que passa dos R$ 12 bilhões. Assim, o resultado do ano deverá ficar acima do projetado. No mercado financeiro, a estimativa é que chegue a 4,7% do PIB.
A irritação da ministra Dilma é que a equipe econômica impõe propositadamente um controle rígido do caixa para garantir uma gordura e fechar o ano acima da meta oficial. Ao defender maior fluxo nas liberações, a ministra ganhou a fama de gastadora, em oposição "à postura austera" da equipe econômica. Na avaliação da ministra, isso foi feito de propósito para desqualificá-la no debate. Assessores próximos garantem que a ministra já sabia que o superávit em 2005 deveria ficar maior do que a meta e a discussão era muito mais "conceitual" do que "pontual". Por isso ela teria ficado "magoada" com Palocci.
Desde o início do segundo semestre, pelo menos, a equipe econômica vem trabalhando com a possibilidade de realizar um superávit primário maior do que os 4,25% do PIB. A avaliação era que essa seria uma forma de compensar o estrago que a política de juros altos fez na dívida pública. Os técnicos da área econômica temem que a relação entre essa dívida e o PIB encerre o ano acima dos 51,7% do PIB registrados em 2004, dando munição para as críticas da oposição em 2006.
Em 2004, o superávit primário acumulado entre janeiro e outubro chegou a 5,4% do PIB, 1,15 ponto percentual acima dos 4,25% do PIB que eram a meta do ano. Com já se sabia que essa diferença não seria integralmente gasta, a equipe econômica aumentou a meta do ano para 4,5% . O resultado final, ainda assim, foi maior, 4,59% do PIB, permitindo que a dívida pública recuasse do patamar de 57,2% do PIB, em dezembro de 2003, para 51,7% do PIB, 12 meses depois.


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