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ORÇAMENTO
Governo e Congresso incluem compra de títulos em proposta orçamentária para obter superávit e verbas
Disputa distorce fundos e autarquias
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
A disputa travada entre o governo e o Congresso por recursos orçamentários de fundos e de autarquias está distorcendo a atuação
dessas instituições e criando uma
possível inconstitucionalidade na
lei orçamentária.
Estão sendo afetados por essa
disputa o Inpi (Instituto Nacional
de Propriedade Industrial), o
Banco Central, a Suframa (Superintendência da Zona Franca de
Manaus), a CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) e a Superintendência de Seguros Privados.
Entre os fundos estão o Fundaf
(Fundo de Desenvolvimento das
Atividades de Fiscalização) e o
Fundo de Garantia à Exportação.
Pela primeira vez, a equipe econômica determinou na proposta
orçamentária dessas instituições
que elas gastem recursos próprios
(R$ 3,9 bilhões) na compra de títulos do Tesouro.
A Comissão de Orçamento do
Congresso pegou carona na estratégia e incluiu R$ 28,012 milhões
nos orçamentos das agências reguladoras de energia elétrica
(Aneel) e de telecomunicações
(Anatel) para essa finalidade
-além de acrescentar R$ 208,26
milhões nos gastos com títulos
públicos das demais instituições.
Com essa manobra, os parlamentares poderão liberar R$ 236
milhões em recursos do Tesouro
que seriam gastos na compra de
títulos para destiná-los ao atendimento de suas emendas.
Esse mercado cativo de títulos
públicos que está sendo criado na
lei orçamentária de 2000 é apenas
uma das várias distorções contidas no projeto, conforme levantamento feito pela Folha.
A inconstitucionalidade da estratégia governista está sendo levantada pelos deputados Giovanni Queiroz (PDT-PA) e Sérgio Miranda (PC do B-MG).
Segundo Queiroz, a Constituição (artigo 164) impede que o BC
"conceda, direta ou indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional", assim como a qualquer
outra instituição financeira. "Não
posso aceitar essa inconstitucionalidade", questiona o deputado.
Para Sérgio Miranda, os estatutos que criaram os fundos, a Suframa, a CVM, a Aneel e a Anatel
não prevêem o gasto de recursos
na compra de títulos públicos.
"As taxas cobradas por essas
instituições, que são a principal
fonte dos recursos destinados aos
papéis do Tesouro, existem em
função de um serviço prestado.
Mas elas estão sendo usadas para
garantir o superávit do governo
no final do ano", protesta.
Os parlamentares vão tentar
impedir a compra dos títulos nesta semana, quando será votado o
relatório parcial da lei orçamentária que trata dessas instituições.
A manobra permite que um
maior número de emendas seja
atendido porque os recursos
acrescidos pelo Congresso também estão ligados à arrecadação
própria dos órgãos afetados.
Com isso, esses valores poderão
ser cancelados nos gastos do Tesouro direcionados para a compra de títulos, o que aumentará os
valores disponíveis para as emendas dos parlamentares.
Outro lado
Procurada pela Folha, a Secretaria do Tesouro Nacional não se
pronunciou sobre os recursos carimbados para a compra de títulos públicos. A assessoria de imprensa do Ministério do Desenvolvimento disse que a Suframa e
o Fundo de Garantia à Exportação precisam comprar títulos para garantir o aval às operações de
comércio exterior realizadas por
eles e que, no caso do Inpi, a compra de papéis do Tesouro é uma
forma de reduzir gastos que atrapalham o ajuste fiscal.
Para o líder do governo na Comissão de Orçamento, deputado
Alberto Goldman (PSDB-SP), a
operação será vantajosa para os
órgãos, "pois a sobra de recursos
será aplicada em títulos com rentabilidade garantida".
Para ele, é natural que o governo
queira direcionar recursos de
suas autarquias e fundos para o
Tesouro. "Se o Tesouro precisa de
dinheiro para garantir o superávit
primário, é natural que ele busque
esses recursos dentro do próprio
governo, e não no mercado financeiro", diz.
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