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PRATO VAZIO
Nos dois "laboratórios" do programa no Piauí, lista de alimentos que poderão ser comprados ainda é incerta
Indefinido, Fome Zero sai hoje do papel
GABRIELA ATHIAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Fome Zero, principal iniciativa na área social do governo Luiz
Inácio Lula da Silva, será lançado
hoje em Brasília sem que tenham
sido resolvidas questões básicas,
como o desencontro de informações entre coordenadores e executores do programa. Também
prevalece um dos principais motivos de críticas ao programa, que
é a exigência de recibos.
Até ontem, no fim da tarde, os
gestores do programa nos primeiros dois municípios que serão utilizados como "laboratórios" do
Fome Zero- Guaribas e Acauã,
no Piauí- não sabiam que alimentos as famílias poderão comprar com os R$ 50 mensais que
deverão começar a receber a partir do dia 27 de fevereiro.
Na primeira etapa do programa, 500 famílias de Acauã e 500 de
Guaribas receberão dinheiro. O
plano é que até o fim do ano 1,5
milhão de famílias, de mil municípios, recebam recursos.
Entre os aspectos indefinidos
no programa está a lista desses
municípios. Por enquanto, o governo está usando a relação de cidades em situação de emergência
por causa da seca, publicada ontem pela Folha.
O único Estado do Nordeste que
não consta da lista é o Maranhão,
por não ter municípios em situação de emergência reconhecida
pelo governo federal. Mas, segundo a coordenação do Fome Zero,
o Estado fará parte do projeto.
Ontem, enquanto a coordenação nacional afirmava, por meio
da assessoria de imprensa, que o
governo federal não faria uma lista de alimentos recomendados,
Roberto Cândido, um dos cinco
gestores de Acauã, aguardava o
documento chegar via fax.
"Como somos laboratório do
programa, é até normal que esteja
ocorrendo toda essa confusão",
disse Cândido: "Se o governo não
mandar nenhuma lista, faremos
isso sozinhos".
Em Guaribas, os cinco membros do comitê gestor se reuniriam ontem com uma equipe de
Brasília para definir uma lista básica de alimentos.
João Abimael Neto, membro do
comitê de Guaribas e secretário
municipal da Saúde, disse ter recebido diariamente informações
diferentes das coordenações nacional e estadual do programa.
A assessoria do Fome Zero informou que o ministro José Graziano (Segurança Alimentar e
Combate à Fome) teria combinado pessoalmente com o governador do Piauí, Wellington Dias
(PT), que a elaboração da lista de
referência dos alimentos seria
produzida no Estado.
Dias teria sugerido, por exemplo, que as famílias pudessem
comprar galinha de capoeira
(criada em quintal) e maxixe. Rosângela Maria de Souza, a coordenadora do programa no Piauí,
afirmou desconhecer o assunto.
Cartilhas
Em razão da defasagem de informações entre a coordenação
nacional e os comitês municipais,
o ministério de Segurança Alimentar vai produzir cartilhas específicas para os gestores locais e
divulgar o programa em rádios
locais. Na prática, são os comitês
que gerenciarão o dia-a-dia do
programa e que orientarão as famílias beneficiadas.
Para a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, a obrigatoriedade de as famílias apresentarem notas fiscais ou recibos
"não vai durar um ano".
Muitos beneficiados são analfabetos e não terão como controlar
o que o comerciante discriminou
no documento, disse. Ela sugeriu
que as equipes montadas para
"fiscalizar" recibos fossem usadas
em projetos educativos com as famílias beneficiadas.
O padre Rosalvino Viñayo, diretor administrativo da Dom Bosco, a maior obra social da cidade
de São Paulo (atende 6.000 pessoas diariamente), disse que programas que doam dinheiro ou comida deveriam ser encarados como emergenciais.
O porta-voz do Planalto, André
Singer, afirmou que as discussões
em torno do programa são normais. "Trata-se de um projeto
ambicioso e abrangente", disse.
Doações
O Ministério da Agricultura recebeu, em menos de 20 dias, cerca
de 4.000 ligações com propostas
do setor agropecuário e de outras
áreas para o Fome Zero.
Segundo a assessoria de imprensa do ministério, as propostas vão desde o abatimento de Imposto de Renda para quem fizer
doação até o uso de leite produzido exclusivamente no Brasil para
atender às famílias carentes.
O governo federal vai incluir no
programa a distribuição de cestas
básicas para populações indígenas da Bahia, ao contrário do que
fará nos municípios prioritários,
onde as famílias receberão R$ 50
para sacar por meio do cartão-alimentação. Somente nas cidades
onde não houver agência bancária ou possibilidade de sacar o recurso é que o governo distribuirá
cupons.
Colaboraram IURI DANTAS E LUCIANA
CONSTANTINO, da Sucursal de Brasília
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