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VIAGEM À SUÍÇA
FHC nega que atual política de juros seja uma 'bomba-relógio'
Presidente critica governos estaduais por 'maus gastos'
IRINEU MACHADO
enviado especial a Berna
O presidente
Fernando Henrique Cardoso
disse ontem que
os Estados que
usam os recursos provenientes das privatizações em gastos correntes, como
obras de infra-estrutura, cometem
um "erro grave", já que o país faz
esforço fiscal "para levar para a
frente o processo de crescimento".
FHC disse que, por razões constitucionais, não tem poder para limitar as decisões dos governos estaduais e apelou às oposições e à
sociedade para reagirem contra o
descontrole das contas.
"As oposições, os partidos do
grupo do governo e os demais e a
sociedade nos Estados devem discutir essa questão e reagir contra o
que seria eventualmente um erro
de gastos", disse. "Sou radicalmente contrário à utilização desses recursos (da privatização) em
gastos correntes."
Bomba-relógio
As declarações foram feitas em
entrevista coletiva em Berna, depois do encontro de FHC com o
presidente do Conselho Federal da
Suíça, Flavio Cotti. O presidente
está na Suíça em visita oficial.
FHC negou que a taxa de juros
do Brasil, uma das maiores do
mundo, tenha o efeito de uma
"bomba-relógio" nas contas públicas do próximo mandato, seja
dele ou não.
"O governo não prepararia uma
bomba de retardo para matar a si
próprio, pelas suas mãos. Imaginando que eu seja candidato, que
eu precise de eleitores, que eu ganhe, seria demais. Seria ridículo se
eu fizesse isso. O que o governo fez
foi tomar as medidas necessárias
para evitar que houvesse um agravamento da crise", afirmou.
Ele atribuiu ao que chamou de
"fracassomania" a existência dessa análise sobre a taxa de juros.
FHC negou que haja uma "articulação" para a renúncia em massa de ministros em março. "Os
ministros que estão lá são de minha confiança. Não vão sair. Vi
nos jornais que haveria alguma articulação. Se há, não é necessária.
Se for o caso, eu converso com cada ministro", disse.
No encontro reservado entre
FHC e Cotti, os dois conversaram
sobre semelhanças de pensamento
de ambos os governos, futebol e o
relacionamento comercial dos
países (a Suíça é o quinto maior investidor internacional no Brasil).
Leia a seguir trechos abordados
durante a entrevista coletiva.
TAXA DE JUROS - "Todas as
pessoas de bom senso sabem que
ou o governo fazia isso (aumentar
a taxa) ou teria uma desvalorização e em seguida subiriam as taxas
de juros. Só que o governo tomou
uma medida necessária, uma decisão de emergência. Não tem nada
a ver com o propósito de criar uma
bomba de retardo, até porque isso
seria inconsistente. A população
entendeu e aplaudiu. Diante das
circunstâncias, olhando o ambiente mundial, nós vamos baixando as taxas de juros."
REFORMA FISCAL - "Não estou
dizendo que o governo está fazendo esforço fiscal para atrair investidores. Não é isso. Estamos fazendo um esforço fiscal para levar à
frente um processo de crescimento no país. Nossa preocupação primeira não é com os investidores. É
com o país, com a economia."
GASTOS DOS ESTADOS -
"Dentro dos limites das nossas
possibilidades, quando fazemos
negociações das dívidas dos Estados, tomamos medidas que restringem a possibilidade de os Estados voltarem a ter comportamentos abusivos."
ISENÇÕES FISCAIS - Questionado sobre a efetividade dos esforços
do governo federal no ajuste fiscal
diante de Estados que abrem mão
de receita para atrair investimentos, especificamente sobre o Paraná e a Renault, o presidente disse:
"O caso mencionado é um pouco
diferente. Tem a ver com o que se
chama no Brasil de guerra fiscal.
Alguns Estados estão implantando condições de investimento em
competição com outros. A base
racional disso é a seguinte: eles
imaginam que sem isso eles não
teriam os investimentos e, portanto, não teriam sequer os recursos
que estão sendo doados sob forma
de isenção. Estão dizendo: se colocarem 1.000, eu abro mão de 500,
mas eu ainda fico com 500. Mas
esses 500 que eu fico são empregos. É a rearticulação da economia. É uma técnica de desenvolvimento do Estado. O governo tem
muitas dúvidas quanto à utilidade
desses mecanismos de guerra fiscal. O governo federal é favorável a
uma reforma tributária que implique a transformação do ICMS em
imposto do valor agregado, que
diminuiria esses ímpetos".
REELEIÇÃO - Negando que esteja demonstrando na Suíça um otimismo sobre a reeleição maior do
que no Brasil: "A impressão, talvez, que eu tenha dado é a seguinte: às vezes, me perguntam se, no
caso de eu perder a eleição, a política econômica vai mudar. Prefiro
dizer que é melhor não levantar
essa hipótese porque não quero
que se levante a hipótese de mudar
a política econômica".
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