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Benedita herda "abacaxi", diz analista
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O economista Raul Velloso, um
dos maiores especialistas em contas públicas do país, avalia que a
vice-governadora Benedita da Silva (PT) irá "pegar um abacaxi"
quando assumir o Estado do Rio
no próximo dia 5.
Ele afirma que o governador
Anthony Garotinho (PSB) está fazendo uma gestão "muito arriscada" e "temerária" nos três últimos
meses antes de deixar o Estado
para concorrer à Presidência. Garotinho nega a acusação.
A pedido da Folha, Velloso, ex-secretário de Acompanhamento
Econômico do Ministério da Fazenda, analisou o relatório do
TCE (Tribunal de Contas do Estado) que indica a possibilidade de
o Estado não ter como pagar o
funcionalismo e os encargos sociais a partir da metade deste ano,
por causa do aumento de gastos
com pessoal (11 mil novos servidores contratados).
Segundo o tribunal, Garotinho
já empenhou neste ano, para pagamento de pessoal e encargos
sociais, R$ 2.272.365.773,92 de
um total de R$ 7.497.152.753,00
-o equivalente a 31% do orçamento. Com investimentos (despesas de capital), o comprometimento da receita já chega a 52%
dos R$ 1.270.465.061,23 orçados
para o ano.
O governador diz que bastará
Benedita pedir uma suplementação de recursos à Assembléia Legislativa para que o pagamento
dos funcionários seja resolvido.
"Ela até pode fazer uma suplementação, mas de onde virá o dinheiro para isso? Boa parte da receita já está empenhada. Cancelar
empenho não é fácil, resulta em
desgaste político, quebra de contrato e briga judicial", afirmou
Velloso.
Segundo o economista, Garotinho comprometeu demasiadamente a receita futura sem ter
uma contrapartida correspondente, "já que a arrecadação do
Estado vem caindo, reflexo do aumento da gasolina, que nas refinarias chegou a 25% em janeiro, e
do racionamento".
Garotinho tem alegado que o
elevado empenho da receita atende à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que proíbe novas despesas após abril, por ser 2002 um
ano eleitoral.
Segundo o economista, a LRF
não se aplica neste caso. "O que a
lei diz é que o governante não pode criar novas despesas além do
orçamento, o que não é o caso. É
uma declaração muito estranha
[de Garotinho]", afirmou.
Relatório "vago"
Para o professor Armando Cunha, da Escola de Administração
Pública e de Empresas da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), o
problema crucial está no aumento dos gastos com pessoal. O governador tem dito que os 11 mil
novos servidores substituirão
funcionários terceirizados que tiveram os contratos cancelados.
Segundo Cunha, nem Garotinho nem o relatório do TCE mostram qual é o valor dos contratos
temporários suspensos e se ele é
suficiente para cobrir o impacto
na folha de pagamento com a
contratação dos novos servidores.
Para o professor da FGV, o relatório do TCE é "vago" e "incompleto", porque só se baseia em informações da Secretaria de Fazenda. Ao contrário de Velloso, ele
avalia que a arrecadação do Estado não está em queda: "Quando o
TCE fez o relatório, as receitas
correntes de março ainda não estavam registradas".
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