São Paulo, sábado, 30 de março de 2002

Texto Anterior | Índice

DIPLOMACIA

Embaixadora critica apoio de EUA à ditadura

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Depois de um mês atualizando seus conhecimentos sobre política eleitoral, economia, feminismo, racismo e antiamericanismo no Brasil, a nova embaixadora dos EUA em Brasília, Donna Hrinak, foi formalmente empossada em sua nova função na tarde de quinta-feira em Washington.
Durante a posse, Hrinak, que já serviu como diplomata no Brasil, elogiou o estágio das relações entre os dois países e fez uma crítica suave ao apoio que os EUA deram no passado a ditaduras militares na América Latina.
"Em particular nesse hemisfério, tenho orgulho de que os EUA hoje defendam a democracia. Nosso histórico, em relação isso, nem sempre foi admirável. Nossas ações atuais são." A embaixadora deve chegar no dia 19.
Hrinak é considerada uma das diplomatas mais experientes e competentes do Departamento de Estado. Antes foi embaixadora na Venezuela, cargo considerado delicado pelos interesses econômicos (o país é um dos maiores produtores mundiais de petróleo) e pelos atritos entre a Casa Branca e o presidente Hugo Chávez.
No último mês, a embaixadora convidou vários especialistas em economia e política para atualizá-la sobre o Brasil. Numa dessas reuniões, em Washington, ouviu relatos alarmantes sobre a reação antiamericana de brasileiros depois dos atentados de 11 de setembro. Reagiu com tranquilidade, dizendo já ter presenciado o mesmo clima na Venezuela. Contou ter visto o sofrimento das mulheres na Bolívia, "país onde a pior coisa que pode acontecer é ser pobre, mulher e índia", e fez uma comparação com o Brasil, país onde ser "pobre, mulher e negra" pode significar a exclusão total.
Com relação às eleições, Hrinak demonstrou especial interesse em quem sucederia o presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse não temer uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e comentou com simpatia o fato de uma mulher, Roseana Sarney, estar participando da campanha.
Tendo morado em São Paulo, onde foi chefe do setor político do consulado americano nos anos 80 e aprendeu português, é tida como uma das responsáveis pelo sucesso do programa de combate ao narcotráfico na Bolívia, onde foi embaixadora entre 1998 e 2000.
Hrinak já defendeu a expansão do Plano Colômbia para as nações vizinhas, argumentando que o narcotráfico afeta todos os países da região, e, ao longo da carreira, construiu a fama de diplomata hábil, gentil, mas que pode ser extremamente dura.
Em episódios distintos na Bolívia, Hrinak chamou publicamente de "mafioso" o marido de uma sobrinha do ex-presidente Hugo Banzer e ameaçou cancelar vistos para os EUA de um juiz que havia absolvido personalidades acusadas de narcotráfico.
Hrinak também se notabilizou pela defesa intransigente, embora suave, dos interesses comerciais americanos. Num exemplo relacionado com o Brasil, criticou cláusulas de exclusividade do gasoduto Brasil-Bolívia na época em que o acordo para sua construção estava sendo concluído.



Texto Anterior: Fogo na sucessão: Vizinhos contradizem PM do Maranhão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.