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DIPLOMACIA
Embaixadora critica apoio de EUA à ditadura
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Depois de um mês atualizando
seus conhecimentos sobre política eleitoral, economia, feminismo, racismo e antiamericanismo
no Brasil, a nova embaixadora
dos EUA em Brasília, Donna Hrinak, foi formalmente empossada
em sua nova função na tarde de
quinta-feira em Washington.
Durante a posse, Hrinak, que já
serviu como diplomata no Brasil,
elogiou o estágio das relações entre os dois países e fez uma crítica
suave ao apoio que os EUA deram
no passado a ditaduras militares
na América Latina.
"Em particular nesse hemisfério, tenho orgulho de que os EUA
hoje defendam a democracia.
Nosso histórico, em relação isso,
nem sempre foi admirável. Nossas ações atuais são." A embaixadora deve chegar no dia 19.
Hrinak é considerada uma das
diplomatas mais experientes e
competentes do Departamento
de Estado. Antes foi embaixadora
na Venezuela, cargo considerado
delicado pelos interesses econômicos (o país é um dos maiores
produtores mundiais de petróleo)
e pelos atritos entre a Casa Branca
e o presidente Hugo Chávez.
No último mês, a embaixadora
convidou vários especialistas em
economia e política para atualizá-la sobre o Brasil. Numa dessas
reuniões, em Washington, ouviu
relatos alarmantes sobre a reação
antiamericana de brasileiros depois dos atentados de 11 de setembro. Reagiu com tranquilidade,
dizendo já ter presenciado o mesmo clima na Venezuela. Contou
ter visto o sofrimento das mulheres na Bolívia, "país onde a pior
coisa que pode acontecer é ser pobre, mulher e índia", e fez uma
comparação com o Brasil, país
onde ser "pobre, mulher e negra"
pode significar a exclusão total.
Com relação às eleições, Hrinak
demonstrou especial interesse em
quem sucederia o presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse
não temer uma eventual vitória
de Luiz Inácio Lula da Silva e comentou com simpatia o fato de
uma mulher, Roseana Sarney, estar participando da campanha.
Tendo morado em São Paulo,
onde foi chefe do setor político do
consulado americano nos anos 80
e aprendeu português, é tida como uma das responsáveis pelo sucesso do programa de combate ao
narcotráfico na Bolívia, onde foi
embaixadora entre 1998 e 2000.
Hrinak já defendeu a expansão
do Plano Colômbia para as nações vizinhas, argumentando que
o narcotráfico afeta todos os países da região, e, ao longo da carreira, construiu a fama de diplomata hábil, gentil, mas que pode
ser extremamente dura.
Em episódios distintos na Bolívia, Hrinak chamou publicamente de "mafioso" o marido de uma
sobrinha do ex-presidente Hugo
Banzer e ameaçou cancelar vistos
para os EUA de um juiz que havia
absolvido personalidades acusadas de narcotráfico.
Hrinak também se notabilizou
pela defesa intransigente, embora
suave, dos interesses comerciais
americanos. Num exemplo relacionado com o Brasil, criticou
cláusulas de exclusividade do gasoduto Brasil-Bolívia na época em
que o acordo para sua construção
estava sendo concluído.
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