São Paulo, sábado, 30 de março de 2002

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FOGO NA SUCESSÃO

Procuradores decidem na segunda se ação da PM em escritório da PF em São Luís será alvo de inquérito

Vizinhos contradizem PM do Maranhão

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS

Vizinhos e pessoas que trabalham próximas ao escritório do serviço de inteligência da Polícia Federal do Maranhão, em São Luís, afirmaram que sabiam há algum tempo que na casa funcionava um órgão do governo federal. Alguns disseram que sabiam que a casa abrigava a Polícia Federal.
A Agência Folha percorreu ontem a vizinhança e ouviu várias pessoas que moram ou trabalham nas imediações e, destas, duas afirmaram ter conhecimento de que os inquilinos trabalhavam para o governo. Todas as outras disseram que nunca tiveram motivos para suspeitar que no imóvel se praticasse algum crime e que nunca viram ninguém armado entrando lá.
As declarações contrariam o principal argumento utilizado pela Polícia Militar maranhense para pedir à Justiça, e tentar realizar, um mandado de busca e apreensão na casa, que fica localizada em um bairro residencial a 12 km do centro de São Luís.
Na segunda, os procuradores da República no Maranhão devem se reunir para decidir se vão determinar à PF a abertura de inquérito para apurar a ação da PM.
Segundo a PM -que desconheceria a atividade da PF no local-, a corporação teria recebido cerca de 20 telefonemas de vizinhos que estariam suspeitando da existência de alguma atividade criminosa dentro da casa devido à grande movimentação, inclusive de pessoas armadas.
O pressuposto gerou uma ação dos policiais militares no imóvel, na quarta-feira, fato que foi interpretado por alguns como uma tentativa da governadora do Estado, Roseana Sarney (PFL), de dar sustentação à tese de que o governo federal estaria espionando sua família como forma de derrubar sua pré-candidatura presidencial.
"Eu sei há uns oito meses que [a casa" era alugada para o governo federal. Nunca vi movimentação que levantasse suspeita, só via carros entrando. Como sabia que era do governo federal, nem me preocupava", disse a cabeleireira Lealdina Santos lopes, 50, que há três anos trabalha em um centro comercial que fica ao lado da casa.
"Gostaria de saber quem ligou para a polícia, porque, para mim, eram pessoas comuns que estavam trabalhando", disse. Segundo ela, nenhum freguês seu comentou que suspeitava de alguma atividade ilícita dentro da casa.
Outro que afirmou que sabia da existência de um órgão federal no local foi o estudante de direito Ézio Farah, 24, que mora em uma casa do outro lado da rua. Segundo ele, comentava-se na vizinhança que a PF atuaria ali.
Quatro outros vizinhos do imóvel, que pediram para não ter os nomes publicados, afirmaram que a residência aparentava ser como todas as outras, sem nada que chamasse a atenção.
A única pessoa que disse ter notado algo de diferente na casa foi a proprietária de um restaurante a cerca de 50 metros. Segundo Edna Costa, 40, havia grande movimentação de carros e uma pessoa sempre ficava na sacada, aparentando estar vigiando o local.
Mesmo assim, a comerciante disse que ela e sua família achavam que a casa era como todas as outras e que não havia motivos para suspeitar de seus inquilinos.
Para pedir a autorização judicial para entrar na casa, a PM não ouviu nem o proprietário do imóvel -que sabia que a casa era alugada para a PF. O comandante-geral da PM, José Nogueira Lago, disse que a ação teve de ser feita rapidamente porque havia suspeita de atividade criminosa no local.



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