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MUDANÇA E CONFLITO
Em oito anos, de 1995 a 2002, os valores pularam de R$ 8,6 bilhões para R$ 25,5 bilhões; em São Paulo, o déficit quase dobrou
Gastos de Estados com Previdência triplicam
DA REPORTAGEM LOCAL
Os gastos dos Estados com o
pagamento de benefícios para o
setor público triplicaram, em termos nominais (sem considerar a
inflação), em um período de oito
anos. Dos R$ 8,6 bilhões que eram
destinados ao pagamento de pensões e aposentadorias para o funcionalismo em 1995, os valores
saltaram para R$ 25,5 bilhões no
ano passado. Os números não levam em consideração a contribuição recolhida pelos Estados.
O crescimento de 347% do déficit do setor nos Estados no período -de R$ 4,9 bilhões para R$
21,9 bilhões- mostra por que os
governadores querem a cobrança
dos inativos. Em reunião com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há duas semanas, os 27 governadores concordaram com a tributação dos servidores inativos
que recebem acima de R$ 1.058.
A contribuição, pedida pelos
governadores, será para atuais e
futuros aposentados da União,
dos Estados e dos municípios,
com alíquota mínima de 11%.
Só em São Paulo, por exemplo,
o déficit chegou, no ano passado,
a R$ 7,5 bilhões, 30% do total dos
Estados. Em 1995, faltavam 3,7 bilhões para o Estado fechar as contas, valor que foi praticamente duplicado em apenas oito anos.
Segundo Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia
e Administração da USP, os governantes buscaram a saída mais
fácil com as mudanças na Previdência introduzidas pela Constituição de 1988.
Antes, alguns servidores estavam submetidos à CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), em
que as administrações tinham de
recolher a contribuição de 20%.
Com a criação do Regime Jurídico Único, Estados e municípios
deixaram de recolher para o sistema, o que acabou contribuindo
para agravar o déficit. "Foi uma
miopia política, que acabou
criando um abacaxi", afirmou
Zylberstajn.
Os municípios também estão
com as contas da Previdência no
vermelho. O déficit total passou
de R$ 1,1 bilhão em 1995 para R$
3,3 bilhões em 2002. Ao todo, os
governos municipais gastam R$
3,8 bilhões com as aposentadorias
-somente a Prefeitura de São
Paulo destinou R$ 1 bilhão para o
pagamento dos aposentados.
Causas
"O governador que gasta grande parte da sua receita com pessoal é chefe de um departamento
de pessoal", afirmou José Cechin,
ex-ministro da Previdência do governo FHC e pesquisador do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada). Os governadores têm
de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, que fixa em 60% da
receita corrente líquida o gasto
máximo com pessoal.
Para Cechin, um dos motivos da
explosão do déficit previdenciário
dos Estados é a decisão do Supremo Tribunal Federal, em 1999, de
proibir a taxação dos servidores
inativos federais, que, em alguns
casos, foi estendida para os Estados que faziam a cobrança.
No caso de São Paulo, os servidores da ativa não contribuem
para a aposentadoria, apenas para
a pensão -6%. A maioria dos Estados, entretanto, já instituiu a cobrança dos servidores ativos para
a aposentadoria.
Outro motivo para o aumento
seriam os reajustes salariais concedidos pelos governos antes e
depois do Plano Real, com base
na inflação que vigorava até 1994.
"Isso inflou a folha de pagamento
dos Estados", disse Cechin.
(JULIA DUAILIBI)
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