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MUDANÇA E CONFLITO
Proposta de reforma tributária cria ainda fundo de compensação para Estados prejudicados por decisão que favorece São Paulo
Governo quer novo ICMS no Estado de origem
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Na última versão da proposta de
emenda constitucional da reforma tributária, o governo resolveu
a maior polêmica do assunto: fixou a cobrança do novo ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) no Estado de produção do bem. Ou seja,
na origem.
Obtida pela Folha, a versão descarta a reivindicação dos Estados
do Nordeste para que a cobrança
fosse feita nos locais de consumo
(destino), o que os beneficiaria.
No entanto, como compensação
aos Estados do Nordeste, Norte e
Centro-Oeste, o governo propõe a
criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional.
Na definição da cobrança do
ICMS na origem, o texto abre a
possibilidade para que lei complementar fixe exceções. A cobrança na origem agrada, principalmente, aos governos de São
Paulo e Minas.
O novo fundo regional, caso a
reforma seja aprovada, destinará
cerca de R$ 2,5 bilhões ao ano aos
Estados dessas três regiões. O dinheiro sairá de parte da arrecadação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do Imposto de Renda que atualmente fica
com o governo federal.
Hoje, 47% da receita desses impostos vai para Estados, municípios e fundos regionais. Os outros
53% ficam com a União. No projeto do Executivo, a previsão é de
que o percentual suba para 49%.
A diferença financiará o fundo.
O projeto prevê que o fundo seja
criado por Proposta de Emenda
Constitucional, que necessita de
dois terços dos votos para ser
aprovada. A utilização mais provável dos recursos é em obras de
infra-estrutura, saneamento e
saúde. Mas o Planalto ainda não
bateu o martelo sobre isso. O uso
do dinheiro será definido posteriormente em lei complementar,
que necessita de maioria simples.
O texto a que a Folha teve acesso prevê ainda a prorrogação da
DRU (Desvinculação de Receitas
da União), mecanismo que dá ao
governo mais liberdade para gastar os recursos públicos, até 2007.
Pela regra atual, esse mecanismo, que libera 20% de todas as receitas, vigoraria até o final deste
ano. Na prorrogação, o governo
quer incluir no mecanismo, já
neste ano, a Cide (tributo sobre o
consumo dos combustíveis), que
começou a ser cobrada neste ano,
e também os tributos que vierem
a ser criados até 2007.
Reunião com governadores
Apesar de terem declarado
apoio às propostas de reforma tributária e da Previdência em reunião com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva na semana retrasada, os governadores dos Estados
mais pobres ainda exigiam uma
compensação para se empenharem em conseguir os votos de
suas bancadas.
Afirmaram que Lula não quis
mudar o local de cobrança do
ICMS para não desagradar aos
Estados mais poderosos, como
São Paulo e Minas Gerais.
Na última sexta-feira, Lula jantou com o governador Ronaldo
Lessa (PSB-AL), em Recife, e ouviu que, sem a compensação, dificilmente os parlamentares do
Nordeste aprovariam a proposta.
Lula, então, pediu ao ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
que encontrasse uma saída.
Ontem de manhã, Palocci telefonou para os governadores Lessa, Zeca do PT (MS) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) para informá-los da criação do fundo.
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