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Conferência debate legislação de imprensa
Evento na Câmara discute elaboração de uma nova lei para o setor; Chinaglia promete colocar o assunto em discussão
Para Luís Frias, presidente
do Grupo Folha, votação no
STF indica necessidade de
decisão sobre lei do setor
para evitar vazio jurídico
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A elaboração de uma nova legislação de imprensa que substitua a sancionada pela ditadura militar (1964-1985) foi debatida ontem na 3ª Conferência
Legislativa sobre Liberdade de
Imprensa, realizada na Câmara
dos Deputados. O presidente
da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), prometeu colocar o assunto em discussão.
Em fevereiro, a atual Lei de
Imprensa, sancionada em 1967,
foi suspensa em parte pelo STF
(Supremo Tribunal Federal)
sob o argumento preliminar de
que ela contém dispositivos
claramente ditatoriais.
O painel "Conquista do direito à liberdade de imprensa" teve como palestrantes Luís
Frias, presidente do Grupo Folha, João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, Júlio César Mesquita, membro do Conselho de
Administração de "O Estado de
S. Paulo" e Roberto Civita, presidente da Editora Abril. O
evento ocorreu no auditório da
TV Câmara, em Brasília.
"[A votação do Supremo] torna ainda mais premente uma
decisão a respeito da legislação
de imprensa no país, até mesmo para evitar o vazio jurídico
que se verifica hoje e que sempre representa um risco para
todos", disse Frias.
Ele apresentou propostas para equilibrar "dois valores de
grande relevância social": os direitos constitucionais à livre informação e a preservação da reputação das pessoas.
"Uma legislação de imprensa
democrática deveria banir a
censura prévia, (...) deveria acelerar o trâmite do direito de
resposta, (...) deveria limitar as
indenizações a determinado teto, deveria inibir a possibilidade de múltiplas ações orquestradas com a finalidade de intimidar os órgãos de comunicação, a chamada litigância de
má-fé, e deveria ainda descartar a pena de prisão [para jornalistas], assumindo a compensação pecuniária ou a prestação
de serviços à coletividade como
forma de reparar eventuais danos", disse Frias, que defendeu
ainda a necessidade de o "setor
avançar em termos de auto-regulamentação".
João Roberto Marinho criticou decisões que obrigam a mídia a divulgar sentenças extensas. "A publicação de sentenças
com dezenas de páginas, altamente técnicas, leituras enfadonhas para as pessoas em geral, afasta os leitores e ouvintes.
O objetivo de restabelecer a
verdade não é alcançado. Para
tanto, existe o mecanismo legal
próprio, que é o direito de resposta", disse. Ele também defendeu nova lei para regular o
direito de resposta e a reparação por danos morais.
Vários projetos de substituição da Lei de Imprensa tramitam na Câmara, mas o principal
deles está estacionado desde
agosto de 1997.
Chinaglia, que também compunha a mesa do evento, afirmou que colocará o assunto em
pauta, mas frisou que "não será
a imprensa que vai pautar os
parlamentares", em resposta a
declarações do presidente do
Senado, Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN), que falara antes e
afirmara que "a mídia pauta os
parlamentares".
Autor da ação que levou ao
congelamento de parte da Lei
de Imprensa, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) se
disse contrário a nova legislação. "Pregam a necessidade de
uma lei melhorzinha. Parece
síndrome de Estocolmo. Parecem ter se acostumado com as
censuras, com as opressões."
O evento foi realizado pela
ANJ (Associação Nacional dos
Jornais) e pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura). Na abertura, o presidente da ANJ, Nelson Sirotsky,
lembrou a morte de Octavio
Frias de Oliveira, publisher da
Folha, que completou ontem
um ano. "Ele foi o responsável
por fazer da Folha um jornal
vibrante e sempre compromissado com a causa da liberdade".
Sirotsky fez menção também à
morte, na sexta, de Demócrito
Rocha Dummar, presidente do
grupo O Povo, do Ceará.
Mesquita fez um relato da luta do jornal contra a censura
exercida pela ditadura. "Lembro episódio do jornalista Júlio
de Mesquita Neto, que foi intimado a depor num inquérito
policial militar. "O senhor é diretor de O Estado de S. Paulo",
perguntou o oficial do Exército. "Não", respondeu o jornalista. "Então, quem é", insistiu o
oficial. "O ministro da Justiça,
professor Alfredo Buzaid, que
todas as noites tem um censor
na tipografia do jornal"."
Civita criticou a tentativa de
restrições à publicidade. "A publicidade é um dos pilares da
imprensa livre e independente.
Há nesta Casa projetos que (...)
restringem a liberdade de imprensa ao estabelecer restrições recentemente mais vigorosas à liberdade de expressão comercial", disse. "A auto-regulação publicitária é um desses casos de triunfo da cultura
da boa-fé e que poderia ser
apresentada como brilhante
exemplo de convivência pacífica e democrática de interlocutores que (...) sentam à volta de
uma mesa e resolvem suas pendências em benefício de todos."
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