São Paulo, quarta, 30 de abril de 1997.

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REFORMA ADMINISTRATIVA
Paes de Andrade critica Michel Temer por pedir vaga para facilitar aprovação de reforma
Disputa por ministérios divide o PMDB

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília


A briga pela entrega de mais ministérios para o PMDB rachou a cúpula do partido.
O presidente nacional do PMDB, deputado Paes de Andrade (CE), criticou o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que pediu ministérios para o partido.
"A missão do presidente da Câmara é exercer a harmonia e a independência entre os poderes. Não deve, portanto, descer para se envolver nas articulações do partido à busca de maior participação nos ministérios'', disse Paes.
Temer respondeu ao ataque por intermédio da sua assessoria de imprensa: ``Nas vezes em que tratei esse assunto com o presidente foi por provocação dele. Nunca tomei a iniciativa de procurar o presidente para tratar desse assunto.''
Em entrevista coletiva, anteontem, o presidente da Câmara afirmou que ``seria útil'' que o presidente Fernando Henrique Cardoso nomeasse os dois ministros do PMDB antes da retomada da votação da reforma administrativa.
Apesar de ter criticado Temer, Paes disse que considera natural o interesse do PMDB pelos ministérios.
``É natural que o PMDB, que apóia o governo, faça as suas reivindicações. Se há compromissos, que o presidente os cumpra.''
O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), defendeu Temer e criticou a atuação de Paes como presidente do partido. Paes tem feito oposição sistemática a FHC, enquanto o PMDB majoritariamente apóia o governo.
``Se tem alguém exercendo atividades que deveriam ser do presidente do partido é porque o presidente age de forma sectária e não defende os interesses do partido. Talvez o Temer esteja suprindo falhas e carências dele'', disse Geddel.
O líder do PMDB acrescentou, porém, que Temer não tem participado das articulações em busca de ministérios para o partido.
``Quando provocado, ele dá a posição dele ao presidente. A escolha de nomes e a hora é escolha do presidente'', declarou Geddel.
Geddel também afirmou que o atraso na indicação dos ministros do PMDB não está atrapalhando as votações da reforma.
``Nenhum dos votos contra se deu em função dos ministérios. Mostrei ao Motta (ministro Sérgio Motta) que ficaram contra os mesmos 38 ou 40 deputados que votaram contra na emenda da Previdência'', disse Geddel.
A avaliação de deputados do PMDB é que a indefinição na escolha dos novos ministros está prejudicando a votação da reforma administrativa.
Na derrota do governo, na última quarta-feira, 38 deputados do PMDB votaram contra ou deixaram de votar. Desses, 22 vinham apoiando o governo em outras propostas, como a reeleição.
Na última votação, o governo não conseguiu 308 votos e foram derrubados pontos centrais da reforma administrativa.
O governo pretendia abolir o regime jurídico único e criar o contrato de emprego público.
Preocupado com o comportamento do PMDB na última votação da reforma administrativa, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu cobrar também a participação do partido na base aliada. Ontem à noite, FHC jantaria com governadores do PMDB -foram convidados os nove governadores do partido. Pediria que ligassem para suas bancadas para votar a favor da reforma.


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