São Paulo, quinta, 30 de abril de 1998

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PERFIL
Mendonça assume estilo do antecessor

da Reportagem Local

A escolha de Luiz Carlos Mendonça de Barros, 55, para ministro das Comunicações, e de André Lara Resende para substituí-lo na presidência do BNDES confirma a tendência dos últimos anos de se revezarem no poder os mesmos economistas.
Quase todos amigos entre si, desde o Plano Cruzado, em 1986, formam um grupo que alterna passagens pelo governo e pela iniciativa privada, usualmente no mercado financeiro.
Essa ciranda de economistas, passando do setor público para o privado e vice-versa, tem provocado polêmica. Políticos de oposição sugerem a "quarentena" para quem entra no troca-troca.
Dos economistas que trabalharam nos quatro últimos governos -de José Sarney a Fernando Henrique Cardoso-, Mendonça de Barros é particularmente ligado a dois, o próprio Lara Resende e seu irmão, José Roberto, economista com pós-doutorado na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Até o final de março, José Roberto era secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, cargo que trocou pela secretaria executiva da Camex (Câmara de Comércio Exterior), subordinada diretamente à Casa Civil da Presidência da República.
Engenheiro de formação, Mendonça acabou trocando a engenharia pela economia. Fez doutorado em Economia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), na qual também é professor do curso de doutorado, e construiu sua vida profissional no mercado financeiro. Foi colaborador da Folha.
A primeira passagem de Mendonça pelo governo começou em em agosto de 1985, quando foi chamado para ser diretor de mercado de capitais do Banco Central.
Até então, Mendonça de Barros era diretor da Corretora Planibanc e da consultoria MBE Associados. Antes disso, havia sido sócio da corretora Patente.
Ele integrou o pequeno grupo de economistas que elaborou o Plano Cruzado. Seu papel foi, porém, menor do que o de outros economistas, como Lara Resende e Pérsio Arida, considerados os autores das idéias mais ousadas do plano.
Por causa do seu conhecimento e experiência no mercado financeiro, Mendonça de Barros foi um dos responsáveis pela elaboração das "tablitas" (tabelas usadas deflacionar valores prefixados) do Cruzado e do tabelamento de preços.
Quando entrou no BC, Mendonça de Barros era um dos coordenadores da campanha ao Senado do hoje presidente Fernando Henrique Cardoso.
Falante, frequentemente vestido de modo informal mesmo em situações mais formais e fumante de charutos, Mendonça de Barros substitui agora Sérgio Motta, seu amigo desde a juventude e com o qual compartilhava certas características pessoais.
Os dois sempre foram considerados agressivos no modo com quem tocavam seus negócios na iniciativa privada e no governo, o chamado estilo "trator" de relacionamento.
Desde que assumiu o BNDES, em outubro de 1995, Mendonça de Barros deu mostras desse estilo ao acelerar o processo de privatização -nesse período foram vendidas ao setor privado 18 estatais, entre elas a Vale do Rio Doce.
Também transformou o BNDES no maior banco de desenvolvimento do mundo, movimentando em 97 um total de R$ 13 bilhões.



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