São Paulo, quinta, 30 de abril de 1998

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CELSO PINTO
O ritmo da privatização


Um dos primeiros problemas que o novo presidente do BNDES, André Lara Resende, vai ter que enfrentar é reestudar o ritmo das privatizações. É uma questão que já vinha preocupando o atual presidente, Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Pelo que se sabe, Barros já estava inclinado a repensar o ritmo das privatizações para evitar uma "indigestão" do mercado internacional. O novo presidente certamente vai examinar a questão.
O fato é que o Brasil tem ativos demais para vender neste ano e quer fazê-lo num prazo muito curto. Do lado dos Estados, o interesse é óbvio: vender o que for possível antes das eleições, para garantir um dinheiro extra no caixa. O governo federal tem o mesmo interesse. No entanto, com reservas recordes de US$ 75 bilhões, há espaço para ordenar melhor a privatização.
No início do ano, o Planejamento chegou a falar numa receita de R$ 32 bilhões com privatizações neste ano. Depois, o BNDES reestimou para R$ 25 bilhões e há quem imagine que não passe de R$ 20 bilhões.
Continua sendo muito dinheiro, um sinal de sucesso, mas, como diz a economista Elena Landau, ex-diretora de privatização do BNDES, muitos criaram a falsa expectativa de que a receita de privatização tem que ser, necessariamente, maior a cada ano. O mercado mudou. No ano passado, a privatização poderia ter ido até além dos R$ 27 bilhões, sem problemas.
Depois da Ásia, contudo, o mercado ficou mais caro, nervoso e arisco. Continua a existir um forte interesse pelas teles e pelas energéticas brasileiras, mas num mercado mais complicado.
O diretor vice-presidente financeiro do Citibank, Ricardo Braga, lembra que a privatização no Brasil não tem sido feita via investimento de capital e sim por meio de alavancagem. Ou seja, quem compra, tipicamente, busca um empréstimo-ponte no mercado externo, que depois é substituído pela emissão de um bônus de longo prazo. A expectativa é que o lucro da empresa adquirida gere caixa para pagar o custo do empréstimo.
Portanto, para muitos compradores, trata-se de ir buscar dinheiro em fontes parecidas no mercado. Se é uma empresa externa de porte, a questão é apenas de custo, mas se for um grupo nacional, o acesso também é importante.
No caso do setor elétrico, outro problema são as regras que impedem concentração de propriedade. Como um mesmo grupo não pode ter mais de 20% da distribuição, 20% da geração ou 30% dos dois (e limites regionais), algumas empresas têm que escolher o que comprar.
No caso do fracasso da venda da Bandeirantes (distribuidora da Eletropaulo), este fator pesou, assim como o preço alto demais e um certo atropelo na oferta de ativos no setor, na opinião de quatro banqueiros.
A VBC, por exemplo, que tem a CPFL, se interessa pela geradora da Cesp (e possivelmente pela distribuidora) e já está muito alavancada. Se comprasse a Eletropaulo, estreitaria o espaço para novas compras. Como, além disso, achou o preço excessivo, não entrou no leilão. É verdade, no entanto, que a alavancagem virou um problema porque os três sócios (Bradesco, Camargo Correia e Votorantim) querem usar a garantia apenas da VBC, não dos seus grupos.
Outro problema do setor elétrico é a falta de algumas regras para a geração, o que aumenta o risco e diminui o interesse. O teste da venda da Gerasul, em julho, será decisivo.
No caso das teles, algumas regras também são essenciais, como a participação externa e algumas exigências contratuais. Tudo isso influi no interesse e no sucesso da privatização. Ordenar a venda, de todo modo, é outro fator relevante a considerar.
A saúde dos bancos
Os bancos brasileiros, graças a Deus, estão saneados, tem repetido o governo. É curioso, portanto, que a cada venda recente de banco, descubra-se que a saúde do vendido não era, afinal, tão boa assim. Na verdade, era tão complicada que o comprador ficou desobrigado de pagar o "pedágio" cobrado pelo Banco Central.
Foi assim com o Boavista comprado pelo Interatlântico, com o Bandeirantes comprado pela Caixa Geral de Depósitos, com o América do Sul comprado pelo Sudameris, com o Noroeste (pelo rombo descoberto a posteriori) comprado pelo Santander, e, agora, pelo Excel-Econômico, comprado pelo Bilbao Vizcaya.
A conclusão é que os problemas continuaram, mas têm sido resolvidos sem muito ruído graças ao apetite externo em comprar bancos no país.




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