São Paulo, quinta, 30 de abril de 1998

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COORDENAÇÃO
Deputado deve decidir se aceita convite do presidente ou se permanece líder do PFL
FHC e Inocêncio discutem liderança hoje

FERNANDO RODRIGUES
MARTA SALOMON
da Sucursal da Brasília

Uma forte reação dentro do PFL deve impedir que o deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) realize seu desejo de acumular os cargos de líder do partido e líder do governo na Câmara.
Isso será discutido entre Inocêncio e o presidente Fernando Henrique Cardoso hoje, numa reunião reservada entre os dois no Palácio do Planalto, às 14h30.
Nessa conversa, Inocêncio terá de decidir se aceita o convite que FHC lhe fez para ocupar a liderança do governo, na vaga deixada por Luís Eduardo Magalhães, morto semana passada.
O pefelista tem receio de sair do seu cargo atual -líder do PFL- e ficar enfraquecido no início do ano que vem, quando pretende disputar a presidência da Câmara dos Deputados.

Tropa
"Como líder do PFL eu tenho 112 deputados na minha retaguarda. Na liderança do governo serei um general sem tropa", costuma dizer Inocêncio.
Além da bancada dos deputados, a liderança partidária oferece para quem a ocupa uma estrutura burocrática com mais de cem cargos. Esse tipo de apoio logístico é fundamental para um parlamentar que está em ano eleitoral e aspira a presidência da Câmara em 99.
A acumulação de cargos de liderança é um fato inédito na Câmara. São trabalhos antagônicos em muitas ocasiões. Um partido pode, por exemplo, ficar contra uma decisão de governo.

Ciúme
Além disso, deputados pefelistas ficaram enciumados com a possibilidade de Inocêncio acumular muito poder exercendo os dois cargos.
Esse acúmulo de funções também desestabilizaria o equilíbrio das forças que dominam o PFL: as correntes da Bahia (comandada pelo senador Antonio Carlos Magalhães) e a de Pernambuco (liderada pelo vice-presidente Marco Maciel em conjunto com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, de Santa Catarina, e o senador Guilherme Palmeira, de Alagoas).
Ontem, no Congresso, a Folha identificou várias saídas que podem ser adotadas por FHC a respeito da liderança do governo na Câmara:
1) Deixar Inocêncio acumular funções -essa hipótese é remota, pois o presidente estaria agradando o pefelista e deixando muitos aliados descontentes;
2) Inocêncio vai só para liderança do governo -depende do charme de FHC na hora da conversa com o pefelista.
O presidente terá de oferecer garantias para Inocêncio a respeito de sua eleição para a presidência da Câmara.
Com a eventual saída de Inocêncio do posto de líder do PFL, está cotado para seu lugar -e em campanha para isso- o atual vice-líder, deputado José Carlos Aleluia, da Bahia e ligado a ACM;
3) Inocêncio fica na liderança do PFL -essa hipótese tem sido divulgada pelo próprio pefelista. O problema é que Fernando Henrique ficaria sem nomes disponíveis para o cargo de Luís Eduardo;
4) Deixar vago o cargo de líder do governo -nesse caso, FHC nomearia Inocêncio, ainda na liderança do PFL, o deputado responsável pelos interesses do governo na votação da reforma da Previdência, que é o que mais interessa ao governo no momento.



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