São Paulo, quinta, 30 de abril de 1998

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SUCESSÃO
Petista diz que Lula e Dirceu sempre afirmaram que convenção do Rio seria autônoma para lançar candidato
Palmeira mantém candidatura e critica PT

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio


O ex-deputado petista Vladimir Palmeira declarou ontem que não vai retirar sua candidatura ao governo do Estado do Rio. Ele afirmou ainda que não acredita na possibilidade de intervenção no Estado por parte da direção nacional do Partido dos Trabalhadores.
"Não retiro nada. Sou candidato das bases do partido", respondeu, ao ser questionado sobre a possibilidade de abrir mão de sua candidatura para não prejudicar a aliança nacional costurada pelo PT para a candidatura de Lula à Presidência da República.
Palmeira chegou a ironizar o "xeque-mate" que lhe foi dado pela cúpula do partido.
Ele atribuiu a um erro de preposição a frase de Lula de que seria ele ou Vladimir. "Não é Lula ou Vladimir, mas Lula e Vladimir", declarou. O ex-deputado disse que não há arranjo de cúpula que revogue a decisão de uma convenção do partido.

Recluso
Desde domingo, quando foi indicado pela convenção regional do PT para disputar a eleição para governador do Estado do Rio, Palmeira não saía de seu apartamento. Ontem, ele decidiu reaparecer para responder às duras críticas que lhe vêm sendo feitas pela direção nacional do partido.
O candidato convocou a imprensa para uma entrevista coletiva na sede do diretório regional do PT e começou dizendo que estava espantado com a reação da Executiva Nacional.
Disse que, na convenção do partido, realizada em agosto do ano passado, a direção regional do Rio propôs uma resolução que garantisse a autonomia dos Estados para escolher seus candidatos a governador.
Na ocasião, segundo ele, o presidente nacional do partido, José Dirceu, deu sua palavra de que a autonomia seria respeitada.
Palmeira disse que começou sua campanha em outubro e que, todo esse tempo, Lula e Dirceu sempre disseram que a convenção regional do Rio seria autônoma para decidir se lançava candidato próprio ou se apoiava o candidato do PDT, Anthony Garotinho.
"Espanto-me que comecem a se meter agora que perderam a convenção", afirmou.
O candidato disse que não admite nem sequer pensar na hipótese de uma intervenção da direção nacional no Estado, porque, segundo ele, seria contra a "cultura" do PT e colocaria em risco a própria sobrevivência do partido.

Mais ataques
Durante toda a entrevista, o candidato foi duro nas críticas a José Dirceu. Disse que ele está conduzindo a política de alianças do PT de forma equivocada, sem considerar as divergências regionais.
"Esse troca-troca regional que José Dirceu patrocinou é uma fonte de intrigas, de brigas, de disputas mesquinhas e fere a diversidade regional do país."
Segundo Palmeira, Fernando Henrique Cardoso fez uma aliança nacional, não se meteu nas brigas regionais e subirá em mais de um palanque nos Estados.
"O PT quis fazer um palanque só, do norte a sul do país. A esquerda tem que aprender com a direita, fazer uma aliança nacional e respeitar as diversidades regionais. Fizeram um acordo sem consultar as bases", prosseguiu.
Em outro ataque a José Dirceu, Palmeira afirmou que, em vez de assumir o papel de mediador, o presidente do partido começou a agir como se estivesse num jogo de dados.
"O militante, a alma, o coração e as pessoas são mera massa de manobra para ele fazer o que quer, nos seus altos interesses políticos estratégicos. Mas a base do PT não é massa, não vai atrás", disse.



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