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FonteCindam obteve vantagem extra
CLÁUDIA TREVISAN
enviada especial a Brasília
Procuradores da República no
Distrito Federal suspeitam que o
Banco FonteCindam foi o grande
beneficiado pela operação de socorro promovida pelo BC (Banco
Central) na época da desvalorização do real, em janeiro.
Apesar de ter comprado dólar a
um preço mais alto que o oferecido
ao Banco Marka, de Salvatore Alberto Cacciola, o FonteCindam
saiu da crise provocada pela desvalorização com patrimônio líquido
de R$ 61 milhões e continuou a
operar no mercado.
O Marka, por sua vez, teve seu
patrimônio zerado e foi obrigado a
fechar a deixar o mercado.
O FonteCindam disse à Folha
que a decisão de realizar a operação foi do BC e não do banco.
A instituição afirmou que tinha
condições de honrar seus compromissos. Também observou que
seus contratos foram assumidos
pelo valor máximo da banda cambial no dia 14 de janeiro (R$ 1,32),
quando ocorreu o socorro.
Sem justificativa
Na opinião de procuradores ouvidos pela Folha, a ajuda ao FonteCindam não tinha justificativa, já
que o banco tinha condições de
sustentar os prejuízos decorrentes
da mudança cambial.
Em depoimento dado à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
dos Bancos, no Senado, o diretor
de Fiscalização do BC, Luiz Carlos
Alvarez, afirmou que a justificativa
para o socorro ao FonteCindam
não foi o risco de o banco deixar de
honrar seus compromissos no
mercado futuro.
Ou seja, nesse caso, não haveria a
ameaça de "crise sistêmica" decorrente da impossibilidade de o banco sustentar seu prejuízo.
Reservas internacionais
Segundo o depoimento de Alvarez, o FonteCindam informou ao
BC que tinha financiamento para
compra de dólar no mercado à vista naquele momento.
O problema é que esse caminho
poderia comprometer o nível das
reservas internacionais do Banco
Central, pois o FonteCindam teria
de pagar juros sobre o financiamento em dólar.
Por isso, no dia 14 de janeiro, o
BC decidiu assumir os contratos
futuros em dólar do FonteCindam
a uma cotação de R$ 1,32. Eram
7.900 contratos, no valor de US$
790 milhões.
Prejuízo
Os procuradores consideram
que a operação foi lesiva ao patrimônio público. Quando assumiu
os contratos a R$ 1,32, no dia 14 de
janeiro, o valor total das operações
equivalia a R$ 1,04 bilhão.
No dia 1º de fevereiro, quando o
BC teve de liquidar os contratos, o
dólar estava cotado em R$ 1,98.
Com isso, o valor total das operações era de R$ 1,56 bilhão.
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