São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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FonteCindam obteve vantagem extra

CLÁUDIA TREVISAN
enviada especial a Brasília

Procuradores da República no Distrito Federal suspeitam que o Banco FonteCindam foi o grande beneficiado pela operação de socorro promovida pelo BC (Banco Central) na época da desvalorização do real, em janeiro.
Apesar de ter comprado dólar a um preço mais alto que o oferecido ao Banco Marka, de Salvatore Alberto Cacciola, o FonteCindam saiu da crise provocada pela desvalorização com patrimônio líquido de R$ 61 milhões e continuou a operar no mercado.
O Marka, por sua vez, teve seu patrimônio zerado e foi obrigado a fechar a deixar o mercado.
O FonteCindam disse à Folha que a decisão de realizar a operação foi do BC e não do banco.
A instituição afirmou que tinha condições de honrar seus compromissos. Também observou que seus contratos foram assumidos pelo valor máximo da banda cambial no dia 14 de janeiro (R$ 1,32), quando ocorreu o socorro.

Sem justificativa
Na opinião de procuradores ouvidos pela Folha, a ajuda ao FonteCindam não tinha justificativa, já que o banco tinha condições de sustentar os prejuízos decorrentes da mudança cambial.
Em depoimento dado à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Bancos, no Senado, o diretor de Fiscalização do BC, Luiz Carlos Alvarez, afirmou que a justificativa para o socorro ao FonteCindam não foi o risco de o banco deixar de honrar seus compromissos no mercado futuro.
Ou seja, nesse caso, não haveria a ameaça de "crise sistêmica" decorrente da impossibilidade de o banco sustentar seu prejuízo.

Reservas internacionais
Segundo o depoimento de Alvarez, o FonteCindam informou ao BC que tinha financiamento para compra de dólar no mercado à vista naquele momento.
O problema é que esse caminho poderia comprometer o nível das reservas internacionais do Banco Central, pois o FonteCindam teria de pagar juros sobre o financiamento em dólar.
Por isso, no dia 14 de janeiro, o BC decidiu assumir os contratos futuros em dólar do FonteCindam a uma cotação de R$ 1,32. Eram 7.900 contratos, no valor de US$ 790 milhões.

Prejuízo
Os procuradores consideram que a operação foi lesiva ao patrimônio público. Quando assumiu os contratos a R$ 1,32, no dia 14 de janeiro, o valor total das operações equivalia a R$ 1,04 bilhão.
No dia 1º de fevereiro, quando o BC teve de liquidar os contratos, o dólar estava cotado em R$ 1,98. Com isso, o valor total das operações era de R$ 1,56 bilhão.


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