São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Banco lucrou R$ 43 milhões, em janeiro, na própria Bolsa, após ter recebido a ajuda do Banco Central
Marka ganhou mais do que devia na BM&F

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local


O socorro do Banco Central foi superior ao que o Banco Marka devia na BM&F. Graças a isso, o banco de Salvatore Cacciola pôde vender alguns contratos ainda em janeiro, na própria Bolsa, lucrando nessas operações cerca de R$ 43 milhões.
O relatório da Bolsa de Mercadorias & Futuros que está sendo analisado pela CPI dos Bancos mostra que, após comprar do BC 12.650 contratos de dólar no dia 12, o Marka voltou ao mercado entre os dias 20 e 22, vendendo, em 13 operações, um total de 1.275 contratos.
O Marka recebeu os contratos do BC no dia 12 a uma cotação de R$ 1,275, enquanto as vendas foram feitas por preços que variaram de R$ 1,560 a R$ 1,690. Com essa diferença de preços, ao revender os contratos mais à frente, o Marka teve um lucro de cerca de R$ 43 milhões às custas do dólar subsidiado vendido pelo BC.
Desde que o episódio se tornou público, acreditava-se que o Marka tivesse 12.650 contratos de venda de dólares futuros na BM&F, o que explicaria que a ajuda tivesse sido desse tamanho.
Conforme a Folha informou ontem, entretanto, na BM&F não havia registro dessa posição. Constavam como sendo do Marka apenas cerca de 9.000 contratos.
Outros 2.300 contratos eram do fundo Stock-Máxima. O fundo tinha como único cotista a subsidiária do Marka nas Bahamas, o Marka Bank. Por isso, quando foi ao BC no dia 13 para pedir ajuda, o banqueiro Salvatore Cacciola acertou com o BC que os contratos do Stock fariam parte do pacote.
O argumento do BC para incluir os 2.300 contratos no pacote é que o dinheiro do Stock seria usado para saldar compromissos no exterior, evitando a inadimplência do Marka com credores estrangeiros. Até hoje, no entanto, não está esclarecido qual o destino que esse dinheiro teve. Depois de sair do Brasil, o dinheiro do fundo trocou de mãos várias vezes no exterior.
Os 1.350 contratos que faltam para completar os 12.650 contratos é que teriam permitido ao Marka lucrar nessas operações na BM&F.
Procurado pela Folha, o BC não comentou o assunto ontem.
Na segunda-feira, o BC havia informado, por meio de sua assessoria de imprensa, que essa sobra de contratos tinha como objetivo permitir que o Marka honrasse outras obrigações que envolviam dólares em outros mercados.
Enquanto o Marka permaneceu com os contratos até que o preço subisse, obtendo lucro, o BC carregou os 12.650 contratos da ajuda ao banco até o vencimento, o que gerou um prejuízo de R$ 892 milhões para o Tesouro. No total, incluindo o segundo socorro ao Marka, no dia 19, e a ajuda ao FonteCindam, o BC gastou R$ 1,567 bilhão.

Itaú
O Banco Itaú contestou ontem as declarações do senador Eduardo Suplicy. O senador se referiu na segunda-feira a uma operação irregular em que o Marka teria repassado ao Itaú 875 contratos de dólar adquiridos do BC.
De fato, há registros no relatório da BM&F que indicam que no dia 20 de janeiro o Marka vendeu 875 contratos a R$ 1,56, enquanto o Itaú comprou a mesma quantidade, ao mesmo preço, no dia 20.
O Itaú divulgou nota em que afirma que não tinha "conhecimento da contraparte", ou seja, do vendedor dos contratos que adquiriu.
"O banco não tinha a menor condição de saber quem estava do outro lado, afinal as operações foram feitas no pregão da BM&F", afirmou Roberto Setubal, presidente do Itaú.


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