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CELSO PINTO
Onde o BNDES pode atrapalhar
A operação de ajuda do
BNDES na rolagem de dívidas
de empresas privadas pode ter
um efeito paradoxal: dificultar a emissão de bônus internacionais pelas empresas brasileiras.
A oferta do BNDES de trocar
bônus de empresas brasileiras
por papéis de uma empresa dele, cria uma garantia adicional para estes créditos. Por esta razão, se a operação for um
sucesso, vai-se criar duas classes de papéis internacionais ligados a empresas brasileiras:
os que têm alguma garantia
adicional do BNDES e os que
não têm.
Por que razão um investidor
externo, a partir daí, preferiria um papel de empresa brasileira sem garantia? Uma rentabilidade maior poderia ser
uma razão, mas o risco também seria bem maior.
Existe, portanto, um certo
risco de a operação tornar
mais difícil a volta das empresas brasileiras em emissões diretas. O Banco Central sabe
deste risco e esta foi uma das
questões discutidas entre o BC
e o BNDES antes da emissão.
Outra questão levantada pelo BC foi o momento da operação. O BNDES queria lançar
sua operação antes da emissão
dos bônus brasileiros. O BC vetou. Se as duas operações viessem juntas ao mercado, seria
mais difícil para a República
colocar seus papéis, até porque
envolvia, também, troca de
papéis antigos por papéis novos.
Para entender melhor as implicações da operação do
BNDES, é bom recapitular sua
estrutura. O BNDES criará
uma empresa específica (uma
SPC) que terá como ativo eurobônus de um grupo de 90
empresas brasileiras selecionadas, num valor de US$ 22
bilhões. Como passivo, terá os
papéis que serão emitidos pela
SPC para refinanciar estes eurobônus por um prazo de 10
anos e juros a definir.
O negócio só vai se viabilizar
se houver interessados em trocar pelos menos US$ 1 bilhão
de eurobônus pelos novos papéis. Teoricamente, a emissão
poderia chegar a US$ 22 bilhões. Como os eurobônus serão absorvidos com deságio,
poderia atingir, no máximo,
uns US$ 15 bilhões.
Os investidores que toparem
a troca terão três vantagens e
uma desvantagem. A primeira
vantagem é trocar uma dívida
de uma empresa brasileira por
outra do BNDES, com uma garantia que cobre dois anos de
eventual calote no pagamento
dos juros.
A segunda vantagem é a liquidez. Suponha um investidor externo que tenha papel
da empresa X do Brasil, parte
de uma emissão total de US$
100 milhões. Se ele quiser negociar o papel, a liquidez será
limitada.
Se, no entanto, ele trocar este
papel por um título emitido
pela SPC do BNDES, este fará
parte de uma emissão mínima
de US$ 1 bilhão, podendo chegar a vários bilhões. Será muito mais fácil encontrar compradores e vendedores do papel, portanto será mais fácil
formar um preço.
A terceira vantagem é a diversificação. Quem tinha um
papel de uma empresa brasileira menos qualificada, por
exemplo, ao trocar por um papel do BNDES estará com um
título lastreado por papéis de
um conjunto de até 90 empresas brasileiras.
A desvantagem é o custo da
troca, que só será anunciado
dia 10 de maio e vai variar
conforme a qualidade do risco
das empresas. O investidor deve perder algum rendimento e
ficar com um título de 10 anos.
Nem todos vão querer ficar
com um risco Brasil tão longo.
Para a empresa brasileira
que emitiu o eurobônus original, é ótimo. Ela refinancia
sua dívida, com a possibilidade de continuar refinanciando
por 10 anos, desde que tenha
uma classificação de risco dentro da exigência do BNDES.
Várias empresas que recompraram seus próprios bônus no
mercado, com enorme deságio, nos últimos meses, poderão se interessar em repassá-lo
para o BNDES, com lucro e garantindo uma rolagem de longo prazo.
O contribuinte sairá perdendo se o BNDES tiver de cobrir
muito calote. Outra dúvida é
saber se será possível reabrir o
mercado de emissão para empresas privadas, especialmente as que não são de primeiríssimo time (tipo Vale do Rio
Doce), sem a garantia do
BNDES.
Por enquanto, o mercado
reabriu para bancos: ABN,
BBA, Citi, Bradesco, Itaú,
HSBC, Safra, Unibanco e Boston, por prazos de um ano ou
dois, com opção de resgate em
um ano. As empresas ainda
não voltaram, embora haja
notícias de operações sendo estudadas. Resta saber se o eventual sucesso da operação do
BNDES vai ajudar ou atrapalhar esta reabertura do mercado para as empresas.
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