São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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Testemunha admite falhas periciais

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

As testemunhas ouvidas até ontem nas novas investigações sobre as mortes de Paulo César Farias, o PC, e de sua namorada, Suzana Marcolino, admitem ter ocorrido falhas periciais no primeiro laudo do caso, que foi coordenado pelo legista Fortunato Badan Palhares.
Em depoimento prestado ontem aos delegados Antônio Carlos Azevedo Lessa e Alcides Andrade e ao promotor Luiz Vasconcelos, o delegado Cícero Torres, responsável pela primeira versão do caso, admitiu falhas.
Torres, ao ser questionado sobre o fato de não ter sido feito exame residuográfico nas mãos dos seguranças de PC e nas demais pessoas que estavam na casa, afirmou não ter considerado importante o exame -que ajuda a determinar se alguém atirou ou não.
""O Instituto de Criminalística não requereu os laudos. Em tese era missão deles. Mas como eu presidia o inquérito, a falta dos exames residuográficos também é de minha responsabilidade", afirmou, em seu depoimento.
Torres afirmou, após o depoimento, que não julgou necessário os exames residuográficos, ""porque existiam outras provas que pareciam mais relevantes".
O delegado afirmou ainda que autorizou a queima do colchão e do lençol da cama, onde os corpos foram encontrados, em 23 de junho de 96, porque a perícia alagoana já tinha feito seu trabalho.
Outra falha de Torres, considerada grave pelo delegado Andrade, foi o fato de ele não ter interrogado nenhum parente de Suzana.
""Os depoimentos das pessoas envolvidas com o crime já nos ajudaram a esclarecer que houve falhas no inquérito, o que nunca havia sido admitido por eles", afirmou o promotor.
O promotor e os delegados viajam no domingo para Campinas (SP) com o objetivo de colher o depoimento do legista Badan Palhares que, mesmo em licença médica até o próximo dia 15 de maio, decidiu antecipar seu depoimento.
O legista quer tentar demover os delegados da tese de que as falhas nos laudos inviabilizam a perícia coordenada por ele.
A perita Anita Gusmão, única técnica a ver os corpos na cama e na cena do crime, reconheceu ontem, também em depoimento, que o Instituto de Criminalística poderia ter tentando colher impressões digitais nos objetos e nas maçanetas do quarto, por exemplo.
Segundo afirmou, as digitais foram procuradas a olho nu, sem a utilização de reagentes que destacam a sinuosidade dos dedos na superfície dos objetos tocados. Ela deixou o depoimento sem falar com os jornalistas.
Anteontem, o legista Gerson Odilon, responsável pela primeira autópsia nos corpos, havia admitido a falha de não ter consignado a altura de Suzana nos autos.
Nenhum dos peritos admitiu a hipótese de que o resultado final do inquérito, de que PC foi assassinado por Suzana, que se suicidou, possa ser modificado pelas falhas reconhecidas.
O Instituto de Criminalística de Alagoas inicia hoje a reconstituição dos crimes, na casa da praia de Guaxuma, litoral norte de Maceió.
No total, sete pessoas que estavam na casa e quatro figurantes participarão da reconstituição, que acontecerá das 21h de hoje às 6h de amanhã. Os figurantes substituirão PC e Suzana e o irmão do empresário, deputado Augusto Farias (PPB) e a namorada dele, Milene.


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