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TROMBONE FINAL
Discurso de senador baiano não terá acusações específicas, só ataques alusivos e citações eruditas
FHC me alforriou de seu declínio, diz ACM
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nada de acusações específicas.
Só ataques alusivos, muita literatura e citações eruditas. Em um
discurso mais retórico do que objetivo, Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) fará ataques ao governo, mas sem acrescentar novidades ao conjunto de acusações já
conhecidas contra o presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Para precaver-se de críticas sobre estar atacando um governo do
qual foi aliado, ACM se dirá traído
e no direito de dizer o que considera errado. A seguir, concluirá:
"[FHC" Alforriou-me de acompanhar até o fim seu longo declínio".
É esse o tom do discurso de renúncia de um dos mais influentes
políticos do país. Num dos trechos que considera mais fortes de
sua fala, dirá que o governo FHC
passa por um "apagão moral",
aludindo à crise energética -nada perto da expectativa formada
em Brasília sobre os possíveis ataques que dispararia no seu último
dia no Senado. O jogo de palavras
segue por várias das 36 páginas de
tamanho A-4 nas quais está impresso o discurso.
Voltaire, Ortega y Gasset, Kant
e, não poderia faltar, Rui Barbosa
são citados ao longo da fala que
ACM classifica como "o melhor e
mais forte discurso que já fiz".
Muita gente será mencionada
de forma alusiva. Sobre o governo
FHC e o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), o baiano falará de forma direta, mas
sem acrescentar fatos novos.
Um peixe pequeno será alvo da
ira baiana. Um empresário do
PNBE (Pensamento Nacional das
Bases Empresariais), responsável
pelo envio de pizzas de papelão a
todos os senadores, teve sua vida
vasculhada pelo carlismo. "Tem
mais de dez processos contra ele
na Justiça", divertia-se ACM. Esse
caso será descrito no discurso.
ACM aprecia em particular um
trecho em que trata da situação
econômica. Auxiliado por economistas amigos, citará muitos números. A explosão da dívida pública, por exemplo. Não há um
número que já não seja conhecido
ou que não tenha aparecido em
propagandas da oposição.
A grande dúvida em Brasília ontem era se ACM falaria sobre a lista da votação secreta que cassou
Luiz Estevão em 28 de junho de
2000. Revelará quem votou a favor e contra? Não, não vai revelar.
E sobre os boatos de que FHC teria recebido as informações?
"É possível [que o presidente tenha recebido". Mas sobre isso não
falarei nunca", responde, sem negar nem confirmar um dos boatos
mais recorrentes em Brasília nos
últimos dias -veementemente
negado pelo Palácio do Planalto.
O começo da fala é com um personagem bíblico: Pôncio Pilatos.
Pouco antes de decidir crucificar
Jesus, pergunta: "O que é a verdade?". ACM completará: "E eu pergunto: o que é a mentira?".
Afirmará então ter sido injustiçado e que muitas mentiras o levaram ao ato extremo da renúncia. Nada específico.
Ao citar Rui Barbosa, vai falar
sobre as "ratazanas" da política
congressual. "Rui nunca foi tão
atual", dirá. De Voltaire, buscou
uma frase em que o dramaturgo
francês pede a Deus que transforme seus inimigos em ridículos. "E
Deus me atendeu."
Uma parcela restrita da direção
do PFL teve acesso ao discurso de
ACM. Pediu que fosse excluído
apenas um trecho pequeno e sarcástico. Trata-se de uma curiosa
afirmação do escritor espanhol
Ortega y Gasset sobre rãs: "Como
podem conhecer o mar se nunca
saíram do brejo?".
Até ontem à noite, ACM estava
decidido a manter a frase. Afinal,
raciocinava, era apenas uma
menção para lá de indireta sobre
o caso de um ranário que recebeu
incentivo público e pertence à
mulher do presidente do Senado,
Jader Barbalho (PMDB-PA).
O discurso está pronto desde
domingo à noite. Cerca de uma
dezena de amigos e assessores o
ajudaram na redação. As citações
foram escolhidas pelo próprio
ACM: "Tenho mais de cem livros
de citações. Vou colecionando as
que gosto".
Choro
Ontem durante o dia, enquanto
revisava a redação final, ACM ia
recebendo telefonemas. Emocionou-se e chorou ao falar no início
da noite com o cardeal-arcebispo
do Rio, d. Eugenio Sales. "Uma
amizade de mais de 30 anos."
Depois de discursar, ACM pretende sair o mais rápido possível
do plenário. "Não vou deixar que
esses hipócritas que me condenaram venham me abraçar." Vai para a Bahia? "Não. Fico até quinta-feira [amanhã" para assistir a posse do Júnior [seu filho e suplente"."
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