São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2001

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DOSSIÊ CARIBE

Polícias federais do Brasil e dos EUA suspeitam que conexão de ex-ministro seria falsificada em documentos

Motta não era diretor de empresa, diz FBI

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARCIO AITH
EM SÃO PAULO

O FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, descobriu que Sérgio Motta, ministro das Comunicações que morreu em abril de 1998, não era um dos diretores da CH, J & T Inc., empresa com sede em Nassau (Bahamas) que deu origem ao dossiê Caribe.
A PF (Polícia Federal) foi avisada informalmente pelo FBI e pediu às autoridades das Bahamas, um paraíso fiscal, que desvendem quem criou a empresa. O FBI e a PF suspeitam que o criador falsificou o papel do dossiê que apontava Motta como diretor e que o ministro pode não ter tido nem conexão indireta com a empresa. Ou seja, não seria dono por meio de laranjas, como é comum nesse tipo de companhia.
Se confirmada oficialmente, a informação será uma das duas principais provas de que o dossiê Caribe foi falsificado. A outra prova, revelada pela Folha em abril, mostrou ser falso um extrato de US$ 352,971 milhões de uma suposta conta da CH, J & T.
O dossiê é um conjunto de papéis sem autenticidade comprovada a respeito de supostas contas no exterior de uma empresa com sede em paraíso fiscal que pertenceria a Motta, ao presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ministro José Serra (Saúde) e ao governador Mário Covas -morto em março. FHC e Serra negam. Covas também negava. Motta morreu antes de o caso aparecer.
O delegado da PF Paulo de Tarso Teixeira, responsável pela investigação, foi avisado pelo FBI no final de abril de que a empresa não tinha Motta como diretor.
Agora, o FBI e a PF estão concentrados em descobrir como foi forjado o dossiê, quem vendeu a papelada e quem lucrou ou tentou lucrar com a divulgação do caso no Brasil em 1998.
Os dois órgãos continuam a achar que os principais suspeitos são o operador financeiro Oscar de Barros, condenado em primeira instância a 78 meses de prisão em Miami por tentativa de lavagem de dinheiro do narcotráfico, e seu sócio em alguns negócios, José Maria Teixeira Ferraz, condenado a 43 meses de prisão na Flórida pelo mesmo crime.
Barros negou a tentativa de lavagem de dinheiro e as suspeitas que o envolvem com o dossiê. Teixeira Ferraz confessou a lavagem e, em gravação do FBI, disse ter "a papelada" do dossiê.
Barros e Teixeira Ferraz teriam usado o pastor Caio Fábio D'Araújo e o evangélico Paulo Sérgio Rosa para vender o dossiê a políticos e a empresários brasileiros.
Segundo o FBI e a PF, outros quatro brasileiros que vivem em Miami também teriam intermediado a venda do dossiê por US$ 4,2 milhões e se tornado sócios de sua revenda por preço superior. São eles: Luiz Cláudio Ferraz Silva, Honor Rodrigues da Silva, Ney Santos e João Barusco.
O FBI suspeita que Santos fez o organograma do fluxo financeiro das supostas contas da CH, J & T no exterior que apareceram em papel timbrado da Overland Advisory Services, empresa de Oscar de Barros. O FBI deve fazer um exame grafotécnico para confirmar se a letra é de Ney Santos.
Como revelou a Folha em abril do ano passado, o empresário brasileiro radicado em Miami Luiz Cláudio Ferraz Silva deu um depoimento no qual disse ter intermediado a venda do dossiê Caribe para Leopoldo Collor, irmão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e para o ex-senador Gilberto Miranda. Os dois teriam repassado os papéis ao ex-prefeito Paulo Maluf. Leopoldo, Collor, Miranda e Maluf negam envolvimento na operação.
Honor, Santos e Barusco foram testemunhas do depoimento de Ferraz Silva ao advogado dos quatro, Frank Rubino, que tem poder de notário nos EUA. Esse depoimento, uma versão dos quatro para se defender de supostas ameaças de Gilberto Miranda, está com Rubino.
Apesar de Ferraz Silva negar ter dado o depoimento, a Folha obteve uma cópia do documento com 59 páginas. Ele narra como teria ajudado Leopoldo e Miranda.


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