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DOSSIÊ CARIBE
Polícias federais do Brasil e dos EUA suspeitam que conexão de ex-ministro seria falsificada em documentos
Motta não era diretor de empresa, diz FBI
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARCIO AITH
EM SÃO PAULO
O FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, descobriu que Sérgio
Motta, ministro das Comunicações que morreu em abril de 1998,
não era um dos diretores da CH, J
& T Inc., empresa com sede em
Nassau (Bahamas) que deu origem ao dossiê Caribe.
A PF (Polícia Federal) foi avisada informalmente pelo FBI e pediu às autoridades das Bahamas,
um paraíso fiscal, que desvendem
quem criou a empresa. O FBI e a
PF suspeitam que o criador falsificou o papel do dossiê que apontava Motta como diretor e que o ministro pode não ter tido nem conexão indireta com a empresa.
Ou seja, não seria dono por meio
de laranjas, como é comum nesse
tipo de companhia.
Se confirmada oficialmente, a
informação será uma das duas
principais provas de que o dossiê
Caribe foi falsificado. A outra prova, revelada pela Folha em abril,
mostrou ser falso um extrato de
US$ 352,971 milhões de uma suposta conta da CH, J & T.
O dossiê é um conjunto de papéis sem autenticidade comprovada a respeito de supostas contas
no exterior de uma empresa com
sede em paraíso fiscal que pertenceria a Motta, ao presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ministro José Serra (Saúde) e ao governador Mário Covas -morto
em março. FHC e Serra negam.
Covas também negava. Motta
morreu antes de o caso aparecer.
O delegado da PF Paulo de Tarso Teixeira, responsável pela investigação, foi avisado pelo FBI
no final de abril de que a empresa
não tinha Motta como diretor.
Agora, o FBI e a PF estão concentrados em descobrir como foi
forjado o dossiê, quem vendeu a
papelada e quem lucrou ou tentou lucrar com a divulgação do
caso no Brasil em 1998.
Os dois órgãos continuam a
achar que os principais suspeitos
são o operador financeiro Oscar
de Barros, condenado em primeira instância a 78 meses de prisão
em Miami por tentativa de lavagem de dinheiro do narcotráfico,
e seu sócio em alguns negócios,
José Maria Teixeira Ferraz, condenado a 43 meses de prisão na
Flórida pelo mesmo crime.
Barros negou a tentativa de lavagem de dinheiro e as suspeitas
que o envolvem com o dossiê.
Teixeira Ferraz confessou a lavagem e, em gravação do FBI, disse
ter "a papelada" do dossiê.
Barros e Teixeira Ferraz teriam
usado o pastor Caio Fábio D'Araújo e o evangélico Paulo Sérgio
Rosa para vender o dossiê a políticos e a empresários brasileiros.
Segundo o FBI e a PF, outros
quatro brasileiros que vivem em
Miami também teriam intermediado a venda do dossiê por US$
4,2 milhões e se tornado sócios de
sua revenda por preço superior.
São eles: Luiz Cláudio Ferraz Silva, Honor Rodrigues da Silva,
Ney Santos e João Barusco.
O FBI suspeita que Santos fez o
organograma do fluxo financeiro
das supostas contas da CH, J & T
no exterior que apareceram em
papel timbrado da Overland Advisory Services, empresa de Oscar
de Barros. O FBI deve fazer um
exame grafotécnico para confirmar se a letra é de Ney Santos.
Como revelou a Folha em abril
do ano passado, o empresário
brasileiro radicado em Miami
Luiz Cláudio Ferraz Silva deu um
depoimento no qual disse ter intermediado a venda do dossiê Caribe para Leopoldo Collor, irmão
do ex-presidente Fernando Collor
de Mello, e para o ex-senador Gilberto Miranda. Os dois teriam repassado os papéis ao ex-prefeito
Paulo Maluf. Leopoldo, Collor,
Miranda e Maluf negam envolvimento na operação.
Honor, Santos e Barusco foram
testemunhas do depoimento de
Ferraz Silva ao advogado dos quatro, Frank Rubino, que tem poder
de notário nos EUA. Esse depoimento, uma versão dos quatro
para se defender de supostas
ameaças de Gilberto Miranda, está com Rubino.
Apesar de Ferraz Silva negar ter
dado o depoimento, a Folha obteve uma cópia do documento com
59 páginas. Ele narra como teria
ajudado Leopoldo e Miranda.
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