São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Meta é adotar decisões simpáticas aos olhos da população

Para alavancar Serra, FHC recorre a "pacote de bondade"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem margem de manobra para adotar uma medida de grande impacto econômico que beneficie José Serra na eleição, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu recorrer a um "pacotinho de bondades" para tentar levar ao segundo turno o pré-candidato do PSDB ao Palácio Planalto.
As duas principais medidas são: a reinclusão de pelo menos R$ 3 bilhões dos R$ 5,3 bilhões cortados do Orçamento recentemente pelo ministro Pedro Malan (Fazenda) e a queda dos juros, sinalizada ontem pela ata do Copom, órgão do Banco Central que define as taxas básicas.
FHC também tomará pequenas decisões simpáticas aos olhos da população. Na próxima quarta, por exemplo, anunciará na TV o início do pagamento das perdas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) provocadas por planos econômicos.
Diante dos sinais de piora econômica, com a queda do PIB (Produto Interno Bruto) em dois trimestres consecutivos em comparação ao mesmo período de 2001 e o desemprego em alta em São Paulo, FHC decidiu dar um refresco a Serra e evitar o clima de recessão no fim de mandato.
Em julho, serão liberados recursos bloqueados para obras paradas ou com o cronograma atrasado. Deverá haver também "descongelamento" de verbas de convênios com prefeituras e Estados. O prazo para repasse desses recursos vai até 6 de julho.
A Folha apurou que o presidente prometeu a Serra a volta de R$ 3 bilhões para investimentos com ou sem a prorrogação da CPMF a partir de 17 de junho. O governo, porém, já dá como certa a prorrogação e a suspensão da noventena (prazo de 90 dias entre a aprovação pelo Congresso e a cobrança). Assim, poderiam voltar a ser gastos R$ 4,9 bilhões dos R$ 5,3 bilhões congelados.

Juros
Depois de conversar com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, FHC obteve sinais de que haverá queda controlada da taxa de juros básica da economia, hoje em 18,5% ao ano.
Outro exemplo de medida simpática veio anteontem: uma portaria liberou o sinal da TV Globo para cerca de 50 milhões de usuários de antenas parabólicas assistirem à Copa do Mundo. Logo após a cerimônia, deputados da Amazônia deram entrevistas a rádios locais comemorando o fato de pessoas nas zonas rurais poderem ver os jogos do Brasil.
A idéia é criar, com esse conjunto de medidas, a sensação de que a economia melhorará, ainda que um impacto significativo da queda de juros demore cerca de seis meses para produzir efeitos positivos nas taxas de desemprego e de crescimento econômico.
Serra argumentou com FHC que o Copom, ao manter os juros altos, dá sinal de falta de confiança na economia, o que faz empresários cortarem na carne já.
Serra debita na conta da equipe de Malan parte da culpa por sua queda nas pesquisas. A outra parcela, atestam pesquisas do próprio PSDB, ficou a cargo das denúncias que apontam relações suspeitas entre Serra e personagens da sombra tucana, como Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador de recursos do PSDB.

Segundo turno
FHC prometeu a Serra que o governo tentará lhe dar os cinco ou seis pontos percentuais que os marqueteiros acreditam serem suficientes para levar o tucano ao segundo turno contra Lula.
Fala-se numa taxa de 23% a 25% para garantir uma das vagas.
Na avaliação de FHC, o presidenciável Anthony Garotinho (PSB) está no limite máximo de intenção de voto, cerca de 16%, por não ter estrutura partidária.
A Folha apurou que, na política, o maior temor de Serra é a eventual saída de Garotinho da sucessão. Para o tucano, Lula poderia ganhar no primeiro turno.
FHC julga que após 5 de julho, com a oficialização das candidaturas, diminuirá a apatia de setores tucanos em relação a Serra.


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