São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Presidenciável diz que usuário de drogas não é criminoso

Ciro afirma na TV que é contra proibição do aborto

Márcio Fernandes/Folha Imagem
O presidenciável Ciro Gomes (PPS) participa da gravação do programa de João Gordo na MTV


DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de se declarar pessoalmente contrário ao aborto, o pré-candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem considerar ""errada" a proibição legal da prática no Brasil.
"Ninguém pode ser a favor do aborto. É uma tragédia humana. É morte, e ninguém pode ser a favor da morte. Para algumas mulheres é necessário. Até mesmo elas, que têm de fazer ou já fizeram por serem pobres ou por terem medo da consequência de uma gravidez não planejada, passaram por traumas", disse Ciro em entrevista gravada ao programa ""Gordo a Go-Go", da MTV.
"Mas acho que este assunto é da mulher, da família. Não é da política, do governo e muito menos da polícia", completou. ""Está errado [ser proibido"." Na avaliação de Ciro, pai de uma adolescente de 18 anos, a proibição legal dificulta a prática apenas para as mulheres mais pobres da população.
"Já há um bom debate no Brasil [sobre o tema] e isso não é o presidente que resolve. É uma relação religiosa, médica, que acaba tendo lugar no Congresso para resolver", disse, ao ser questionado se a legislação deveria ser modificada.
Hoje, no Brasil, o aborto é considerado crime. A prática é permitida apenas em casos de estupro ou de risco de vida para a gestante.
""Não sou candidato a guru de costumes. Meu programa de governo não menciona essa questão, a não ser quando imagino a rede pública de saúde com qualidade suficiente para dar à mulher pobre, que hoje está se obrigando, nas circunstâncias em que chegar à decisão traumática de fazer aborto, à clínica clandestina."
Dirigindo-se a um público com idade entre 15 e 29 anos, segundo a MTV, o ex-ministro também criticou a legalização das drogas, mas afirmou que usuários de entorpecentes não são criminosos.
""O usuário, para mim, não comete crime nenhum. Mas não devemos legalizar as drogas. Maconha é ilegal, cocaína é ilegal, crack é ilegal. Mas usar crack não é crime. É doença, e a ser tratada com carinho, hospital e assistência médica", declarou Ciro, que também defendeu a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Tramita no Congresso desde fevereiro projeto de lei enviado pelo Palácio do Planalto que, entre outros pontos, propõe o fim da prisão para o usuário de drogas.
Segundo a proposta, entre as penas previstas para usuários estão prestação de serviços à comunidade e a internação.
No programa da MTV, com exibição prevista para o dia 10, Ciro declarou que aceitará apenas doações de recursos de empresas nacionais para sua campanha.
Voltou a criticar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que o petista está caminhando ""da esquerda para a direita".
Além de um tampo de vidro sobre um manequim de quatro fazendo às vezes de mesa como parte do cenário, a atração comandada por João Gordo é caracterizada pela quantidade imensurável de palavrões normalmente pronunciada pelo apresentador, o que chegou a provocar preocupação na assessoria do pré-candidato.
Ontem João Gordo evitou os palavrões e moderou as piadas. ""Administrar o Brasil não é serviço para um homem", disse Ciro, sobre a necessidade de governar com o apoio de outros partidos. ""Como assim? Explica isso direito porque esse programa...", interrompeu o apresentador.
""Seu Ciro", forma adotada depois de algum tempo por João Gordo para se referir ao presidenciável, também demonstrou descontração. Afirmou já ter tido cabelo comprido e encaracolado, e que é apreciador de forró. Arriscou até um balançar de cabeça ao ouvir uma música tecno, estilo do qual se declarou um admirador.
Sua namorada, a atriz Patrícia Pillar, também foi tema da conversa. ""Qual foi o xaveco?", perguntou João Gordo. ""Não foi xaveco, foi paixão mesmo."


Colaborou a Sucursal de Brasília



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