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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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CONTRA-REFORMA

Servidores protestam contra ministro, que comparou Brasil a Noruega ao defender elevação da idade mínima

Dirceu é vaiado por servidores em S. Paulo

Antônio Gaudério/Folha Imagem
José Dirceu, ministro da Casa Civil, gesticula ao ter sua fala interrompida pelas vaias de...
 
Antônio Gaudério/Folha Imagem
...cerca de 250 funcionários públicos que lotavam as galerias da Assembléia Legislativa de São Paulo


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro José Dirceu (Casa Civil) foi vaiado ontem por funcionários públicos, no plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo, ao defender a proposta de reforma previdenciária do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Irritado, Dirceu discutiu com os manifestantes -cerca de 250 servidores públicos contrários aos projetos dos governos federal e estadual para a Previdência.
O ministro estava na Casa para participar de um seminário sobre reforma tributária, mas, diante dos protestos, passou a abordar a previdenciária e foi duro na defesa das mudanças na aposentadoria dos servidores públicos.
"Não acredito que os servidores públicos possam se apresentar perante a nação, perante o povo brasileiro, que tem 40 milhões de pessoas fora da Previdência, e pedir ao país que gaste o que está gastando com o sistema. Não é justo isso, não é correto do ponto de vista ético", disse ele.
O discurso do ministro aos deputados estaduais foi interrompido quatro vezes pelas vaias.
Em entrevista após o término do evento, o Dirceu disse que as vaias fazem parte da democracia, mas acrescentou: "Em determinados momentos eles [manifestantes] não queriam ouvir [as razões do governo] porque é duro ouvir a verdade, ela dói muitas vezes. Nós estamos fazendo a reforma necessária", disse.
Os primeiros apupos surgiram quando Dirceu tentou usar a Noruega como parâmetro de comparação com a situação do Brasil para destacar a necessidade de elevação da idade mínima para a aposentadoria dos trabalhadores.
Os servidores, nas galerias, protestaram. Um dos manifestantes gritou: "Aqui é o Brasil, ministro!". A expectativa de vida na Noruega é de 78,5 anos (segundo dados do IDH), contra 68,7 anos do Brasil (segundo o IBGE). Após a interrupção, Dirceu retomou sua fala e voltou a defender a elevação da idade mínima, dizendo "achar perfeitamente razoável" que o servidor público trabalhe sete anos a mais antes de se aposentar.
Os gritos e vaias novamente ecoaram no plenário. "Não dá para comparar a situação da Noruega com a nossa. É uma comparação esdrúxula", disse René Aragão, funcionário da área de educação que ostentava um broche do PT e vestia uma camiseta do Sindicato dos Funcionários da Educação Oficial do Estado de São Paulo. A Polícia Militar vigiou os manifestantes durante todo o discurso do ministro. Não houve nenhum incidente.
O ministro foi vaiado novamente quando lançou mão de dados estatísticos para comparar a situação dos trabalhadores do regime geral de Previdência com a dos servidores públicos.
Dirceu chegou a ser chamado de "Pinóquio" pelos manifestantes mais exaltados, que dele cobraram coerência com as propostas defendidas anteriormente pelo PT ("Volta para o PT ministro", gritavam da galeria) e acusaram o governo de estar a "serviço dos banqueiros e do FMI (Fundo Monetário Internacional)".
"O PT nunca havia se manifestado sobre a cobrança dos servidores públicos inativos, e nossa reforma não é igual à do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso", rebateu o ministro.
A explanação de Dirceu, prevista para demorar cerca de uma hora, acabou durando apenas 40 minutos. Ao final de seu discurso, sob novas vaias, Dirceu foi enfático: "A imensa maioria do povo brasileiro está do nosso lado. Nós vamos fazer a reforma".
Os manifestantes eram funcionários públicos do Executivo, sobretudo das áreas de saúde e educação, e do Judiciário. Todos os sindicatos eram ligados à CUT.
Eles lotaram as galerias do plenário da Assembléia e estenderam faixas contra as propostas de reforma dos governos federal e estadual. José Dirceu visitou a Assembléia a convite do presidente da Casa, Sidney Beraldo (PSDB).
Antes de deixar o plenário, ele respondeu a perguntas dos deputados e foi taxativo ao dizer que a cobrança dos inativos foi incluída na reforma a pedido dos Estados.


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