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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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JANIO DE FREITAS

Os convertidos

Os protestos que tomam as ruas de várias cidades do Peru e são reprimidos com a decretação do militaresco estado de emergência, adotado pela segunda vez nos dois anos do atual governo, respondem à face institucional e política, ainda pouco ou nada estudada como tal, dos já bem conhecidos programas econômicos impostos na América Latina por entidades como o FMI e o Banco Mundial, extensões operacionais do Consenso de Washington.
Economista formado nos EStados Unidos, o presidente de origem índia e ex-engraxate, Alejandro Toledo, é mais um dos que seguem a senda aberta por Carlos Menem e Alberto Fujimori. É mais um dos que ofertam ao eleitorado, na ponta dos dedos ou na ponta da língua, programas coerentes com as urgências e aspirações dos seus países e, uma vez chegados ao governo, rendem-se ao conjunto, acobertado pelo eufemismo "mercado", em que se interligam o FMI, o Banco Mundial, o setor financeiro e o sistema internacional de especulação.
De toda a leva de presidentes eleitos na América Latina, da metade dos anos 90 para cá, o venezuelano Hugo Chávez é o único que, apesar de todos os problemas gerados por seu governo e pelos oponentes conservadores, não se contrapôs, como governante, ao que foi como candidato.
Empossado neste mês, já por isso o novo presidente da Argentina não poderia figurar no rol dos convertidos. Mas, antes mesmo da posse, proporcionou uma síntese para explicá-los. Está no sentido velado desta frase preciosa: "Eu não vou deixar os meus princípios na porta da Casa Rosada". A Casa Rosada é um misto argentino de Planalto e Alvorada.

A confissão
Depois da revelação de que o governo americano exigiu da CIA relatórios falsos sobre a posse, pelo Iraque, de armas de destruição em massa, é conveniente memorizar essa explicação do principal formulador da estratégia belicista de Bush: a ênfase nas tese das armas foi escolhida porque "era o tema sobre o qual todos concordavam" para justificar a guerra.
Paul Wolfowitz é subsecretário de Defesa. Mas sua obsessão é o ataque.

Nas nuvens
É no mínimo questionável, do ponto de vista ético, a aceitação do novo jato BBS oferecido pela fábrica Boeing para a viagem que Luiz Inácio Lula da Silva deve iniciar, hoje, à Europa.
O interesse da Boeing é a venda de um avião semelhante, para uso da Presidência. Se vier a adquiri-lo, o governo está, desde agora, envolvido na aceitação de benefício proporcionado por um fornecedor. Se não pretende fazer o injustificável gasto com a compra do avião, é outro bom motivo para não aceitar o favor.
Se não quer mais usar o Boeing 707, o que a Presidência deve fazer, para as viagens internacionais de Lula, é fretar um avião comercial. Como fazem tantos presidentes europeus e, com mais viagens, João Paulo 2º.
Esse negócio de avião não tem cabimento.


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