São Paulo, sexta, 30 de maio de 1997.



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EM PORTUGAL
Ministro pede bênção para o governo tucano
Motta acende velas para si e para FHC

IGOR GIELOW
enviado especial a Portugal

Sérgio Motta acendeu uma vela para Fernando Henrique CArdoso, outra ainda maior para si próprio e pediu a bênção do bispo de Fátima -sítio sagrado em Portugal- para o Brasil e para o governo tucano.
Esse é o resumo da primeira etapa mística da viagem particular que o ministro das Comunicações está fazendo por Portugal, após encerrar a agenda oficial na última terça-feira.
Sem nenhuma palavra sobre compra de votos, articulação política ou banda B, Motta chegou na noite de quarta-feira a Fátima, 120 km ao norte de Lisboa, com o objetivo de visitar o famoso santuário da cidade.
Na madrugada de ontem, o ministro foi caminhar. Parou no mítico santuário de Fátima, local onde a Virgem Maria teria aparecido para três crianças em 1917.
Junto à cova da Iria, ponto ao lado do arbusto em cima do qual "uma senhora mais brilhante do que o sol" apareceu, Motta parou para comprar velas.
Pegou duas da caixa aberta e depositou os 50 escudos (R$ 0,30) pedidos. Sua mulher, Wilma, também pegou velas.
"Essa aqui é para o Fernando Henrique Cardoso. Sempre é boa", disse o ministro. Depois, acendeu outra, "para Wilma".
Na manhã seguinte, o ministro levou a mulher, uma prima, a mãe e a sogra para a missa de Corpus Christi no santuário, um grande pátio semicircular a partir da basílica de Fátima que antes recebeu mais de 50 mil pessoas. Motta empurrou a cadeira de rodas com a mãe, Noêmia, 83.
"Fiquei emocionado com a fé das pessoas. Sou agnóstico, não materialista, mas me emocionei. Era um sonho de minha mãe", disse o ministro, que não comungou e ouviu uma homilia sobre a eucaristia que pregava o abandono do desânimo.
Depois de duas horas de missa ao ar livre, o ministro levou a família para conhecer o bispo de Fátima, Serafim Sousa Silva. Ficou, como outros peregrinos, cerca de 30 minutos numa fila.
O bispo desceu do palanque, devido à impossibilidade de levantar a cadeira da mãe do ministro: "Eu sou Sérgio Motta, ministro das Comunicações do Brasil. Trago um abraço do presidente Fernando Henrique Cardoso e trouxe minha mãe. Gostaria de pedir também uma bênção para meu país e seu governo".
O ministro comprou então duas velas de um metro de altura. Uma foi para a mãe. "A outra foi para mim, por dica da minha mãe, que acha que é para me cobrir das pragas."
Motta é de uma família de cristãos-novos, judeus que tiveram que se cristianizar para fugir da Inquisição entre 1506 e 1786.
Em Portugal, o rei d. Manuel casou-se com uma nobre da Coroa espanhola e aderiu à proibição do judaísmo em 1496.
Deu dez anos para os judeus se cristianizarem. Depois, o destino foi o exílio, a prisão e a fogueira em Lisboa, num processo que só terminou 280 anos mais tarde.
À tarde, Motta foi para Porto, tendo parado para comer leitão na cidade de Mealhava.



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