São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAIBA MAIS

Fox rompeu com 71 anos de PRI, mas é refém do partido

DO ENVIADO ESPECIAL

Quando Vicente Fox quebrou a tradição política mexicana ao vencer as eleições presidenciais por um partido de oposição, analistas sugeriram que o PRI, legenda que governara o país por 71 anos e que fora desalojada do poder, estaria fadada à fragmentação. Caberia ao novo presidente recolher os "cacos" que lhe agradassem.
Dois anos depois, o PRI não só continua existindo como um bloco partidário relativamente sólido como faz oposição sistemática ao governo, paralisando a administração e contribuindo para a queda no índice de aprovação de Fox - de cerca de 80%, em 2000, para menos de 40% no mês passado.
Analistas dizem que a queda também foi provocada pela ordem mundial pós-11 de setembro. Os atentados elevaram o controle da Casa Branca sobre imigrantes mexicanos ilegais e impediram que Fox usasse sua relação privilegiada com o presidente George W. Bush para "flexibilizar" a fronteira entre os dois países. Fox se elegeu prometendo melhorar a vida de mexicanos ilegais nos EUA.
Mesmo com uma menor receptividade de Bush a essa proposta, Fox e seu chanceler, Jorge Castañeda, levaram adiante a polêmica mudança na política externa mexicana. A nova política faz um esforço para jogar no lixo o nacionalismo arraigado há décadas no país.
Na quinta à noite, Castañeda divulgou que os pilares da nova política externa passarão a se basear no reconhecimento dos EUA como uma superpotência hegemônica mundial.
Apelidada por Castañeda de "bilateralismo multilateral", a nova política propõe alianças estratégicas com todos os países, mas vê como indiscutível o fato de o México se vincular estreitamente aos EUA, por "razões de história, de geografia e interesses concretos".
A política recebe críticas do PRI e de outros partidos de oposição, que, juntos, controlam cerca de 60% das cadeiras do Senado e 65% da Câmara.
No campo econômico, Fox convenceu parte dos mercados de que a participação do país no Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) retira sua economia do imaginário latino-americano.
Apesar disso, o México apresenta problemas similares aos brasileiros. Embora seu comércio tenha quadruplicado na última década, o país ainda apresenta um déficit comercial e depende dos capitais internacionais para fechar suas contas.
O maior problema econômico do país é sua pequena arrecadação tributária -apenas 10% do PIB. Fox tentou passar ampla reforma do sistema de impostos, mas, diante da oposição no Congresso, teve de aceitar mudanças cosméticas.
Há cerca de dez dias, o presidente do Banco Central mexicano, Francisco Gil Diaz, declarou que, se o México não aprovar uma reforma fiscal ampla, o país poderá transformar-se numa Argentina, pois o recursos de privatização irão se esgotar. (MARCIO AITH)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Rumo às Eleições: Vice de Lula trava disputa com a Receita
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.