São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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"Adversários colocarão pedras no caminho de Lula"

DA REPORTAGEM LOCAL

Frei Chico diz que o irmão precisa se preparar porque os adversários vão "colocar pedras no sapato" do petista. Metalúrgico e sindicalista aposentado, conversou com a Folha em um restaurante na avenida São Luís (centro de São Paulo). (PF)
 

Folha - Como o sr. vê a atual trajetória política do Lula, caminhando da esquerda em direção ao centro?
José Ferreira da Silva, Frei Chico -
Hoje ele está no caminho certo. Tem uma atitude decente, um projeto para o Brasil, mas olhando o mundo. E entendendo que a sociedade vai mudar paulatinamente. Um candidato à Presidência com um discurso mais radical não tem penetração na massa.

Folha - Qual a diferença do Lula hoje para o da época das greves no ABC e da fundação do PT?
Frei Chico -
Quando Lula foi do sindicato para o partido, manteve o mesmo discurso. Levou alguns anos para compreender que o discurso do sindicato não pode ser feito no partido. A sociedade é muito ampla. Então, você tem de mudar. Algumas pessoas por safadeza querem que o Lula mantenha a mesma postura. Ele não pode manter, porque evoluiu, política e culturalmente. Até na roupa ele evoluiu.

Folha - Lula era mais radical que o sr.? Frei Chico - Lula sempre teve uma capacidade enorme de negociar. Ele sempre foi muito honesto. Se falar que vai fazer aquilo, cumpre o acordo que fez. Isso trouxe respeitabilidade para ele no movimento sindical e no empresarial.

Folha - Como o sr. avalia as chances de o Lula ser eleito? Frei Chico - Ele vai ter dificuldade porque o preconceito ainda é grande. Assumindo a Presidência, vai negociar até com adversários. Vai tentar ganhar os caras com propostas mínimas para ele poder governar.

Folha - Como é a sua relação com o Lula?
Frei Chico -
A gente fala mais besteira. De política só o necessário. Lula é da família uma vez por mês, a vida do Lula não pertence mais a ele. É um escravo da política. Mas ele gosta. Não sai mais disso. Só a morte acaba com isso.

Folha - O que vai acontecer se o Lula perder?
Frei Chico -
O PT cresce e ele continua na vida pública. Não tem mais o que fazer. Ele pode até não se candidatar mais a nada, mas continuará como militante. E pode fazer parte de uma organização internacional, uma ONG.

Folha - O sr. ainda se considera socialista?
Frei Chico -
A igualdade social que queremos só se dará num regime socialista.

Folha - O PT seria caminho para isso?
Frei Chico -
O processo do Brasil está longe disso. O PT não tem como implementar nenhum programa nesse sentido. O projeto do PT hoje é começar a chamada social-democracia. Mais direito, educação, eliminando a miséria para começar a transformar.



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