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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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PT X PT

Em reunião da Comissão de Ética, cúpula do partido dispensa depoimentos de parlamentares contra Heloísa Helena

PT monta operação para "salvar" senadora

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção do PT sinalizou que não quer arcar com o desgaste de ter de expulsar a senadora Heloísa Helena (AL) do partido ao dar um tratamento diferente à parlamentar no processo disciplinar movido contra ela na Comissão de Ética do partido.
O principal indicativo desse tratamento dado a Heloísa Helena foi a desistência do secretário de Organização do PT, Sílvio Pereira, de convocar os senadores Tião Viana (AC) e Ideli Salvatti (SC) para testemunhar contra a parlamentar alagoana. Ligado ao ministro José Dirceu (Casa Civil), Pereira é o autor da representação que deu origem ao processo disciplinar movido contra Helena e os deputados João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PA), e Luciana Genro (RS) na Comissão de Ética.
"Nós queremos continuar o diálogo com a senadora. Achamos que com ela há uma boa base de entendimento. Não queremos queimar todas as pontes", disse Sílvio Pereira. Ele afirmou, no entanto, que o limite do "diálogo" é o comprometimento de Helena de votar a favor das reformas.
"Com certeza, tática de guerrilha não é explodir ponte. Mas não posso dar minha palavra de que votarei a reforma da Previdência", declarou a senadora.
As testemunhas de defesa e acusação dos radicais foram ouvidas neste fim de semana, na sede do PT, em São Paulo. Houve apenas três testemunhas de acusação contra 13 de defesa.
Diferentemente do caso de Salvatti e Viana, que, ao depor, poderiam "acirrar" o ânimo da senadora, a direção do partido não abriu mão dos depoimentos dos deputados federais Paulo Rocha (PA) e Ângela Guadagnin (SP), que testemunharam contra Genro e Babá. Na avaliação dos dirigentes petistas, os dois já decidiram deixar o PT para formar um novo partido. Continuariam na sigla apenas para ganhar visibilidade com o caso, dando força para a tese a favor da expulsão.
Adelmo dos Santos, dirigente do PT de Alagoas, foi o único nome que depôs contra a senadora. Segundo Pereira, ele foi arrolado para falar sobre a oposição da senadora à aliança do PT com o PL nas eleições de 2002.
Na reunião da bancada petista do Senado na terça-feira, será definida a estratégia de tramitação das reformas na Casa. O partido pretende debater uma solução aceitável para o governo e Helena.
A senadora defende que possa ser aplicado, no seu caso e no dos deputados, o artigo 67 do estatuto do PT, que permite que o parlamentar não vote com a maioria caso haja "objeções de natureza ética, filosófica ou religiosa". Para Pereira, tal saída está descartada.

Mais críticas
As testemunhas de defesa dos radicais deixaram a sede do partido criticando duramente o governo e o PT. O filósofo Paulo Arantes chegou a falar em "guerra civil" no PT e disse que a única chance de os radicais não serem expulsos é o agravamento da crise econômica no país, o que fortaleceria a posição desses parlamentares junto à opinião pública.
Para o sociólogo Chico de Oliveira, o processo disciplinar contra os três "fragiliza" o PT, tornando-o "presa fácil das investidas fisiológicas da direita e dos que fazem política do toma lá, dá cá".
O deputado Paulo Rocha foi hostilizado por cerca de dez militantes do partido que apoiavam os radicais. "Paulo Rocha, que papelão, tem que parar de fazer inquisição", cantavam os petistas. "Isso não é processo democrático de divergência e sim de ataques deliberados", disse Rocha.


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