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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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Senadora insinua que pode deixar o PT

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem fixar data, a senadora Heloísa Helena (AL) insinuou anteontem que pode deixar o PT independentemente do resultado do processo em curso no partido que a ameaça de expulsão.
Helena participou de um "tribunal paralelo" de julgamento dos parlamentares radicais, organizado, entre outros, pelo ex-deputado constituinte pelo PT Plínio de Arruda Sampaio.
Em seu discurso perante o "tribunal", a senadora disse que as forças de esquerda precisam "fazer uma disputa gigantesca" sobre os rumos do governo e do PT, mas que necessitam "estabelecer uma estratégia e estabelecer um tempo também".
"Não é justo ficar a legitimar, a dar legitimidade a um processo como esse [do governo Luiz Inácio Lula da Silva]", disse.
Helena afirmou que "o PT a eles [direção do partido e governo] não pertence e é exatamente por isso que a gente precisa disputar algo que é patrimônio da classe trabalhadora". "Agora, com passos firmes, com passos necessários, estabelecendo um calendário de lutas para que a gente possa decidir o que é que nós vamos fazer. Porque viver de saudade, sabe? Viver de memória histórica..."
Questionada pela reportagem após o fim do evento, a senadora disse que não levantava "nenhuma hipótese". "Se eu não acreditasse mais no meu partido, eu já teria saído e não estaria enfrentando essa humilhação que nós estamos enfrentando numa Comissão de Ética." Mas afirmou: "Já disse que não vou ter com o PT uma relação que político vigarista tem com partido de aluguel, que faz qualquer coisa e abre mão de suas convicções para ter uma legenda para disputar eleições".
O prazo a ser dado ao partido e ao governo antes de uma tomada de decisão, ela disse, é "programático", e não "temporal".
Os outros parlamentares petistas ameaçados de expulsão também discursaram. A deputada Luciana Genro (RS) afirmou que os dirigentes do PT "querem transformar o partido em um novo PSDB, em um novo PMDB".
Os deputados João Batista de Araújo (PA), o Babá, e João Fontes (SE) acusaram o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de fisiologismo na condução da área política do governo.
Segundo Fontes, cuja possível expulsão será analisada diretamente pelo Diretório Nacional da legenda, Dirceu teria dito ao senador Eduardo Suplicy (SP) que, caso ele testemunhasse a favor de Helena na Comissão de Ética, anotaria seu nome "na caderneta como inimigo pelo resto da vida". "Eles pensam que todo mundo se vende por cargo", disse Fontes.
De acordo com Babá, "o czar José Dirceu, a partir da Casa Civil, quer determinar tudo, tratando parlamentares do PT como se fossem moleques".
Disse que "outros parlamentares estão sendo ameaçados" para votarem a favor da reforma da Previdência. "Senão o czar corta os cargos, as verbas."
Ao final do julgamento "paralelo", acompanhado por cerca de 200 sindicalistas e militantes petistas, foi aprovada uma declaração a ser enviada à direção do PT na qual a idéia central, comunicada pelo economista Plínio de Arruda Sampaio Jr., será de que "a vítima do processo contra os radicais é a democracia".
"Os efeitos desse atentado contra a democracia serão terríveis para o partido e a sociedade", disse o economista, propondo o conteúdo da declaração, que foi aprovada. Segundo ele, "o atentado contra a democracia é um atentado contra o povo brasileiro".


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