São Paulo, terça, 30 de junho de 1998

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SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Objetivo norte-americano era "neutralizar' influência do Eixo na Varig, Vasp e Condor
Empresas aéreas sofreram pressão dos EUA

XICO SÁ
enviado especial a Natal

O Departamento de Estado norte-americano chegou a "investir" US$ 8 milhões para combater a influência dos países do Eixo, liderados pela Alemanha, nas companhias aéreas brasileiras.
Segundo documentos do arquivo do governo dos EUA, revelados em Natal por pesquisadores do Museu da Aviação e da Segunda Guerra Mundial, as diretorias da Varig, da Vasp e da extinta Condor eram vistas como grandes aliadas da Alemanha de Hitler.
Por esse motivo, deveriam ser alvo de uma política de "convencimento" que incluía o pacote dos US$ 8 milhões à época.
O assunto é tratado no documento "Eliminação da Lati (companhia aérea italiana) no Brasil", timbrado pelo Departamento de Estado e com data de 30 de julho de 1941, quando o governo de Getúlio Vargas também era visto como amigo do nazismo.
"É necessário combater a influência do Eixo, eliminando a Lati, e "desgermanizando' a Varig, a Vasp e a Condor", diz o texto.
A Lati fazia um vôo de Roma para o Rio de Janeiro, com escala em Natal, lugar onde os norte-americanos instalariam, em 42, a sua maior base militar fora dos EUA.
Segundo o Departamento de Estado, a companhia da Itália, um dos países do chamado Eixo, deveria ser banida do país.
O "investimento" deu resultado em relação à Varig e à Vasp. A Condor passou a fazer parte de uma "lista negra" de empresas inimigas dos americanos.
Como castigo, o governo dos EUA ordenou o corte do fornecimento de gasolina à empresa. Esse serviço era prestado pela multinacional Standart Oil do Brasil.
Pressionada e também vítima do corte do combustível dos seus aviões em território brasileiro, a Lati foi obrigada a encerrar as suas operações entre Roma e o Rio.
Antes de ser forçada a deixar de voar para o Brasil, um esquema de espionagem, comandado pelo FBI (polícia federal dos EUA), vigiava todos os passageiros e a bagagem dos aviões da Lati.
Essa vigilância acabou revelando, segundo os documentos em poder do Museu da Aviação e da Segunda Guerra, um dado curioso: o grande contrabando de diamantes e de outras pedras preciosas do Brasil.
Os relatórios do FBI e do Office of Strategic Services (órgão equivalente hoje à CIA, agência de inteligência dos EUA) são fartos em casos de italianos que saíam do país com malas cheias de pedras.
Os documentos que agora são revelados, 53 anos depois do final da guerra, foram obtidos nos EUA pelo sociólogo e pesquisador Leonardo Barata, de Natal.
São 70 kg de papéis e fotos que irão fazer parte do acervo do Museu da Aviação e da Segunda Guerra Mundial, que está sendo montado pelo sociólogo.
Esses documentos se encontram, livres para consulta, na Biblioteca do Congresso, em Washington.
A papelada nunca despertou interesse de nenhum órgão de governo do Brasil, o que motivou a pesquisa de Barata. Os documentos revelam uma Segunda Guerra Mundial (1939-45) desconhecida no Brasil, onde foram afundados pelo menos 16 submarinos (15 alemães e um italiano).



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