|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo depende de
capital especulativo
GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia
da Sucursal de Brasília
O governo Fernando Henrique
Cardoso defende há anos um controle dos capitais especulativos,
mas ainda não conseguiu manter a
inflação baixa sem eles.
Pouco antes de FHC pregar a taxação sobre os trilhões de dólares
movimentados diariamente no
mundo, sua equipe econômica
prorrogou até o fim do ano vantagens tributárias para o dinheiro
que os especuladores internacionais trazem ao Brasil.
É uma opção pragmática: sem o
capital de curto prazo, não teria sido possível cobrir os buracos nas
contas externas, até janeiro último,
nem evitar a disparada do dólar,
desde então.
O Plano Real sucumbiu por depender demais de recursos externos, necessários para compensar a
alta das importações nos tempos
de dólar abaixo de R$ 1,20.
De 1994 a 1998, o capital especulativo financiou o programa de
combate à inflação, cobrando juros cada vez mais altos à medida
que aumentava a desconfiança
quanto ao futuro dessa estratégia.
Quando esses investidores deixaram o país e o Banco Central se viu
ameaçado de perder suas reservas
em moeda forte, em janeiro, o governo foi obrigado a abandonar o
controle da cotação do dólar.
Ao contrário do que se chegou a
imaginar, o fim da âncora cambial
não tornou o país, pelo menos até
aqui, independente do capital de
curto prazo.
A preocupação agora é evitar que
o dólar suba demais, o que faria subirem também a inflação, os juros
e o déficit público.
Para fazer o dólar cair de R$ 2 para algo entre R$ 1,70 e R$ 1,80, o BC
voltou a se valer do capital especulativo, que, passado o pânico pós-desvalorização, vem retornando
ao país e elevando a oferta de moeda norte-americana.
Não seria difícil, em tese, controlar a entrada de dinheiro de curto
prazo -ou "de má qualidade", como o próprio governo o classifica- no país, se esse fosse o desejo
da área econômica.
Essa é justamente uma das funções do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que taxa, entre outras operações, os ingressos
dos diversos tipos de capital estrangeiro. Os menos desejáveis
têm taxação alta, e os mais, alíquota zero.
O IOF cobrado de investimentos
externos especulativos já foi de
9%. Em março último, a taxação
foi reduzida de 2% para 0,5% até
junho -prazo que acaba de ser
prorrogado até dezembro.
Texto Anterior: Lafer pede "mobilização" Próximo Texto: Gastos somaram R$ 25 milhões Índice
|