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Ministro do Desenvolvimento diz que apenas trabalho
da sociedade garante sucesso do país nas novas rodadas
de negociação e enumera os desafios a serem enfrentados
Lafer pede "mobilização"
do enviado especial ao Rio
O ministro do Desenvolvimento,
Celso Lafer, disse ontem que as
três rodadas de negociações comerciais de que o Brasil participará a partir de novembro deste ano
requerem "empenho e mobilização da sociedade brasileira".
"É preciso trabalhar com seriedade, não permanecer numa agitação feroz e sem finalidade", afirmou Lafer, citando verso do poeta
Manuel Bandeira para fazer referência indireta aos ataques que
vem sofrendo de pessoas que desejam sua posição no ministério.
O poema de Bandeira, chamado
"Momento num Café", fala de um
grupo de homens que assiste, num
bar, à passagem de um enterro.
Um deles sabia que "a vida é uma
agitação feroz e sem finalidade/
Que a vida é traição".
Lafer, que até dezembro era embaixador do Brasil junto à OMC
(Organização Mundial do Comércio), acha que o Brasil precisa de
"um prazo de carência" para lidar
com as perspectivas novas que as
negociações vão impor.
"Somos um país continental,
com uma tendência natural de
olhar para dentro", afirmou Lafer,
em entrevista à Folha.
Segundo ele, o coeficiente de importação do Brasil, por menor que
seja em relação ao de outros países,
vai aumentar quando as negociações estiverem concluídas.
"Precisamos criar uma cultura
de exportação apropriada a essa
nova dimensão", argumenta ele.
O país precisa de reestruturação
produtiva, na opinião do ministro,
para ganhar escala global. Exemplo de empresa bem-sucedida,
desse ponto de vista, é a Embraer,
que este mês fechou contratos no
valor de US$ 6,2 bilhões.
Na opinião de Lafer, a "variável
crítica" da Embraer é sua capacidade de fazer projetos, que deriva
em grande parte da sua relação de
origem com centros de tecnologia,
como o CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica).
"Ciência e tecnologia em escala
são um dado-chave". Além disso,
no entanto, o país tem de se preocupar em reduzir o "custo Brasil",
as falhas de sua infra-estrutura e de
seu sistema tributário que encarecem a produção de bens.
Outra prioridade para o Brasil se
sair bem do desafio das três rodadas de negociações comerciais, segundo Lafer, é implementar os "eixos nacionais de desenvolvimento
e integração", conjunto de projetos elaborados pelo BNDES.
Os eixos, que foram incorporados pelo Plano Plurianual do governo federal, fazem um diagnóstico da economia da geografia do
país, inclusive do Mercosul.
Mais um conceito que Lafer considera importante que o Brasil incorpore: o de redes.
Ele imagina pequenas e médias
empresas que operem ancoradas
em grandes corporações: as grandes precisam de insumos de qualidade, as menores necessitam de
acesso a tecnologia. É uma das fórmulas de Lafer para obter o que
chama de "adensamento das cadeias produtivas".
A formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o novo acordo mundial de comércio
(Rodada do Milênio) e a associação União Européia-Mercosul vão
abrir mercados para produtos brasileiros, em especial agrícolas.
Mas, em contrapartida, o Brasil
vai ter de dar mais acesso a outros
países em seus próprios mercados,
em particular de bens e serviços.
Na sua avaliação, a data de 2005,
que vem sendo usada pelo governo
brasileiro como parâmetro para o
encerramento dos três processos
de integração comercial, é suficiente para as necessidades do país
de se adaptar à nova realidade.
"Desde que haja mobilização nacional em torno de coisas sérias",
adverte. No entanto, com base na
experiência que teve em outro processo internacional, o da Rodada
Uruguai (que resultou na formação da OMC), Lafer adverte que os
prazos são mutáveis.
"A Rodada Uruguai demorou
muito mais do que se previa ao início. Mesmo assim, só foi politicamente possível porque a Guerra
Fria acabou. Se não, poderia ter demorado muito mais", diz ele.
Se não houver "acidentes imprevisíveis", um lustro ("para usar expressão da Faculdade de Direito")
é tempo razoável.
(CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA)
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