São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho de 1999
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Reunião entre União Européia e América Latina/Caribe termina com a convocação de um novo encontro a ser realizado em Madri; "Declaração do Rio de Janeiro" é apenas relação de boas intenções

Única decisão é realizar cúpula em 2002

do enviado especial ao Rio

A Cúpula União Européia/América Latina-Caribe terminou ontem com a convocação de novo encontro do gênero para o primeiro semestre de 2002, em Madri, capital da Espanha.
A rigor, trata-se da única decisão concreta de uma reunião que, com a presença dos chefes de Estado e de governo dos 48 países dos dois lados do Atlântico, durou menos de 24 horas.
Os dois documentos emitidos -a "Declaração do Rio de Janeiro" e as "Prioridades de Ação"- são, como a Folha já antecipara domingo, um enorme catálogo de boas intenções, composto de 68 e 55 itens respectivamente.
Se as boas intenções chegassem algum dia à prática, o mundo europeu e latino-americano/caribenho se transformaria em um paraíso terrestre. Bastaria para tanto que fosse cumprido um só item, o 18, que diz:
"Dar prioridade à superação da pobreza, da marginalização e da exclusão social, no contexto da promoção do desenvolvimento sustentável, bem como modificar padrões de produção e consumo, promover a conservação da diversidade biológica e do ecossistema global e o uso sustentável dos recursos naturais, prevenir e reverter a degradação ambiental, principalmente a decorrente da excessiva concentração industrial e de padrões inadequados de consumo, bem como da destruição das florestas e da erosão do solo, do esgotamento da camada de ozônio e do crescente efeito estufa, que ameaçam o clima mundial".
De uma tacada só, em dez linhas corridas, sem um único ponto para respirar, as misérias da Terra estariam resolvidas quase todas.
O problema é que boas intenções similares já foram manifestadas em incontáveis documentos de encontros do gênero, sem que o mundo tivesse de fato mudado.
Basta citar o fato de que as "Prioridades de Ação" incluem: "Caberá dispensar especial atenção à implementação das recomendações da Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Social, de 1995".
Traduzindo: cinco anos depois dessa outra cúpula, 48 dos países que firmaram o documento de 1995 ainda estão recomendando "especial atenção à implementação" do que decidiram então.
Nada impede, portanto, que na cúpula marcada para Madri se mencione a necessidade de implementar o documento ontem assinado. Haverá até um pequeno escritório para monitorar o andamento da catarata de propostas que compõe a "Declaração do Rio de Janeiro" e as "Prioridades de Ação", igualmente em Madri.
Os países participantes do encontro do Rio recusaram-se a criar uma nova estrutura burocrática, no pressuposto de que os mecanismos de diálogo já existentes entre a União Européia e os países do Sul sejam mais que suficientes.
Na prática, a parte mais concreta dos encontros do Rio encerrou-se anteontem, único dia da cúpula mais limitada, entre União Européia e Mercosul (mais Chile).
É verdade que essa reunião não foi além do "lançamento das negociações" para eventual criação de uma zona de livre comércio entre os dois blocos, que, se implementada, seria a maior do planeta.
Mas a diplomacia moderna está tão concentrada em temas econômicos que as negociações comerciais e/ou financeiras é que acabam dando caráter concreto aos encontros de governantes.
O bloco UE/Mercosul-Chile tem, por isso, muito mais a característica de esboçar "um mundo multipolar", como o definiu o presidente Fernando Henrique Cardoso, do que a cúpula maior entre a UE e todos os países latino-americanos e caribenhos.

Encontro ibero-americano
O primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, disse que cabe ao governo cubano criar o melhor ambiente possível para viabilizar o 13º Encontro Ibero-Americano, marcado para outubro, em Havana. Argentina, Chile, Nicarágua e El Salvador se recusam a participar da reunião, alegando falta de democracia em Cuba. (CLÓVIS ROSSI)


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