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Reunião entre União Européia e América Latina/Caribe termina
com a convocação de um novo encontro a ser realizado em Madri;
"Declaração do Rio de Janeiro" é apenas relação de boas intenções
Única decisão é realizar cúpula em 2002
do enviado especial ao Rio
A Cúpula União Européia/América Latina-Caribe terminou ontem com a convocação de novo encontro do gênero para o primeiro
semestre de 2002, em Madri, capital da Espanha.
A rigor, trata-se da única decisão
concreta de uma reunião que, com
a presença dos chefes de Estado e
de governo dos 48 países dos dois
lados do Atlântico, durou menos
de 24 horas.
Os dois documentos emitidos
-a "Declaração do Rio de Janeiro" e as "Prioridades de Ação"-
são, como a Folha já antecipara
domingo, um enorme catálogo de
boas intenções, composto de 68 e
55 itens respectivamente.
Se as boas intenções chegassem
algum dia à prática, o mundo europeu e latino-americano/caribenho se transformaria em um paraíso terrestre. Bastaria para tanto
que fosse cumprido um só item, o
18, que diz:
"Dar prioridade à superação da
pobreza, da marginalização e da
exclusão social, no contexto da
promoção do desenvolvimento
sustentável, bem como modificar
padrões de produção e consumo,
promover a conservação da diversidade biológica e do ecossistema
global e o uso sustentável dos recursos naturais, prevenir e reverter
a degradação ambiental, principalmente a decorrente da excessiva concentração industrial e de padrões inadequados de consumo,
bem como da destruição das florestas e da erosão do solo, do esgotamento da camada de ozônio e do
crescente efeito estufa, que ameaçam o clima mundial".
De uma tacada só, em dez linhas
corridas, sem um único ponto para
respirar, as misérias da Terra estariam resolvidas quase todas.
O problema é que boas intenções
similares já foram manifestadas
em incontáveis documentos de encontros do gênero, sem que o
mundo tivesse de fato mudado.
Basta citar o fato de que as "Prioridades de Ação" incluem: "Caberá dispensar especial atenção à implementação das recomendações
da Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Social, de 1995".
Traduzindo: cinco anos depois
dessa outra cúpula, 48 dos países
que firmaram o documento de
1995 ainda estão recomendando
"especial atenção à implementação" do que decidiram então.
Nada impede, portanto, que na
cúpula marcada para Madri se
mencione a necessidade de implementar o documento ontem assinado. Haverá até um pequeno escritório para monitorar o andamento da catarata de propostas
que compõe a "Declaração do Rio
de Janeiro" e as "Prioridades de
Ação", igualmente em Madri.
Os países participantes do encontro do Rio recusaram-se a criar
uma nova estrutura burocrática,
no pressuposto de que os mecanismos de diálogo já existentes entre a
União Européia e os países do Sul
sejam mais que suficientes.
Na prática, a parte mais concreta
dos encontros do Rio encerrou-se
anteontem, único dia da cúpula
mais limitada, entre União Européia e Mercosul (mais Chile).
É verdade que essa reunião não
foi além do "lançamento das negociações" para eventual criação de
uma zona de livre comércio entre
os dois blocos, que, se implementada, seria a maior do planeta.
Mas a diplomacia moderna está
tão concentrada em temas econômicos que as negociações comerciais e/ou financeiras é que acabam
dando caráter concreto aos encontros de governantes.
O bloco UE/Mercosul-Chile tem,
por isso, muito mais a característica de esboçar "um mundo multipolar", como o definiu o presidente Fernando Henrique Cardoso, do
que a cúpula maior entre a UE e todos os países latino-americanos e
caribenhos.
Encontro ibero-americano
O primeiro-ministro espanhol,
José María Aznar, disse que cabe
ao governo cubano criar o melhor
ambiente possível para viabilizar o
13º Encontro Ibero-Americano,
marcado para outubro, em Havana. Argentina, Chile, Nicarágua e
El Salvador se recusam a participar
da reunião, alegando falta de democracia em Cuba.
(CLÓVIS ROSSI)
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