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Presidente cubano disse em discurso aos demais chefes de Estado e de
governo que seu país foi "criminosamente bloqueado" e virou "moeda
de troca" num "entendimento nada ético sobre leis extraterritoriais"
Para Fidel, acordo é antiético e injusto
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
O presidente cubano, Fidel Castro, considerou antiética, injusta e
injustificável a supressão de uma
condenação explícita a uma lei dos
Estados Unidos anti-Cuba na Declaração do Rio de Janeiro.
Em discurso ontem aos demais
chefes de Estado e governo, Fidel
afirmou que seu país, ""criminosamente bloqueado", se transformou em ""moeda de troca" num
""entendimento nada ético sobre
cínicas leis extraterritoriais".
Disse também que ""posições comuns nada justas e injustificáveis
se somam de fato ao objetivo de
nos asfixiar economicamente".
Sem se referir explicitamente à
decisão da cúpula de não condenar
a lei norte-americana que em 1996
aprofundou o embargo econômico a Cuba, Fidel na verdade protestou contra a declaração do Rio,
conforme indica o discurso e confirmou reservadamente a diplomacia cubana. A intervenção, na
discussão sobre fluxos financeiros
internacionais, marcou uma mudança em relação à abordagem de
Fidel na véspera, quando ele evitou
criticar o texto final da cúpula.
O esboço da declaração contemplava a oposição explícita à Lei
Helms-Burton, que permite que os
EUA punam empresas que façam
certos investimentos em Cuba.
No texto final, apesar da resistência cubana, há uma formulação genérica determinando ""reiterar
nossa firme rejeição de todas as
medidas de caráter unilateral e de
efeito extraterritorial que sejam
contrárias ao direito internacional
e às regras de livre comércio usualmente aceitas".
Único comunista presente à cúpula, Fidel Castro assinou a declaração, apesar de ela não citar especificamente a Helms-Burton.
Depois de citar os recursos europeus aplicados no Leste europeu,
na Rússia em particular, e na reconstrução da Sérvia e de Kosovo,
o presidente cubano perguntou:
""Quanto vai restar para a União
Européia investir na América Latina e no Caribe?"
Segundo Fidel, no final da década de 80 os europeus respondiam
por 54% do investimento externo
direto na AL. De 1990 a 1994, a porcentagem teria caído para 23%.
Apesar de duvidar da capacidade
de a UE investir, Fidel disse que o
euro, nova moeda da UE, vai ""ajudar a nos libertar dos privilégios da
tirania do dólar". Segundo o dirigente cubano, dos 499 milhões de
habitantes da AL, 210 milhões vivem abaixo da linha de pobreza,
sendo 98 milhões indigentes.
O governo de Cuba foi criticado
por governantes europeus. Na opinião do presidente da França, Jacques Chirac, ""está havendo um retrocesso na questão dos direitos
humanos".
Foi a mesma posição manifestada pelo primeiro-ministro da Espanha, José Maria Aznar. Na opinião do primeiro-ministro da Alemanha, Gerhard Schroeder, ""todos sabem que existe um regime
ditatorial em Cuba". Para o alemão, a ""inclusão de Cuba no diálogo levará o país passo a passo para
a democratização".
Apesar de a cúpula ter terminado
ontem, Fidel continuará no Rio até
amanhã, recebendo homenagens e
fazendo palestra para estudantes.
Colaboraram Fernanda da Escóssia e Ronaldo
Soares
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