São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho de 1999
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Presidente cubano disse em discurso aos demais chefes de Estado e de governo que seu país foi "criminosamente bloqueado" e virou "moeda de troca" num "entendimento nada ético sobre leis extraterritoriais" Para Fidel, acordo é antiético e injusto

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio

O presidente cubano, Fidel Castro, considerou antiética, injusta e injustificável a supressão de uma condenação explícita a uma lei dos Estados Unidos anti-Cuba na Declaração do Rio de Janeiro.
Em discurso ontem aos demais chefes de Estado e governo, Fidel afirmou que seu país, ""criminosamente bloqueado", se transformou em ""moeda de troca" num ""entendimento nada ético sobre cínicas leis extraterritoriais".
Disse também que ""posições comuns nada justas e injustificáveis se somam de fato ao objetivo de nos asfixiar economicamente".
Sem se referir explicitamente à decisão da cúpula de não condenar a lei norte-americana que em 1996 aprofundou o embargo econômico a Cuba, Fidel na verdade protestou contra a declaração do Rio, conforme indica o discurso e confirmou reservadamente a diplomacia cubana. A intervenção, na discussão sobre fluxos financeiros internacionais, marcou uma mudança em relação à abordagem de Fidel na véspera, quando ele evitou criticar o texto final da cúpula.
O esboço da declaração contemplava a oposição explícita à Lei Helms-Burton, que permite que os EUA punam empresas que façam certos investimentos em Cuba.
No texto final, apesar da resistência cubana, há uma formulação genérica determinando ""reiterar nossa firme rejeição de todas as medidas de caráter unilateral e de efeito extraterritorial que sejam contrárias ao direito internacional e às regras de livre comércio usualmente aceitas".
Único comunista presente à cúpula, Fidel Castro assinou a declaração, apesar de ela não citar especificamente a Helms-Burton.
Depois de citar os recursos europeus aplicados no Leste europeu, na Rússia em particular, e na reconstrução da Sérvia e de Kosovo, o presidente cubano perguntou: ""Quanto vai restar para a União Européia investir na América Latina e no Caribe?"
Segundo Fidel, no final da década de 80 os europeus respondiam por 54% do investimento externo direto na AL. De 1990 a 1994, a porcentagem teria caído para 23%.
Apesar de duvidar da capacidade de a UE investir, Fidel disse que o euro, nova moeda da UE, vai ""ajudar a nos libertar dos privilégios da tirania do dólar". Segundo o dirigente cubano, dos 499 milhões de habitantes da AL, 210 milhões vivem abaixo da linha de pobreza, sendo 98 milhões indigentes.
O governo de Cuba foi criticado por governantes europeus. Na opinião do presidente da França, Jacques Chirac, ""está havendo um retrocesso na questão dos direitos humanos".
Foi a mesma posição manifestada pelo primeiro-ministro da Espanha, José Maria Aznar. Na opinião do primeiro-ministro da Alemanha, Gerhard Schroeder, ""todos sabem que existe um regime ditatorial em Cuba". Para o alemão, a ""inclusão de Cuba no diálogo levará o país passo a passo para a democratização".
Apesar de a cúpula ter terminado ontem, Fidel continuará no Rio até amanhã, recebendo homenagens e fazendo palestra para estudantes.


Colaboraram Fernanda da Escóssia e Ronaldo Soares

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