São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Superprotetora, mãe de Heloísa diz ter vontade de "arrancar a barba de Lula"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DO ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Diante de Helena Lima de Moraes, 70, sua filha é uma diplomata. A mãe de Heloísa Helena, 44, candidata do PSOL à Presidência da República, transmitiu seu sangue quente à herdeira, mas ainda tem menos papas na língua do que ela.
"Se eu encontrasse Lula, eu arrancava a barba dele. Tenho vontade de matá-lo", vocifera.
A reação é de uma mãe que quase chora ao se lembrar da filha sendo imprensada por policiais enquanto protestava contra a reforma da Previdência. Foi por votar contra a proposta de Lula que Heloísa acabou expulsa do PT. "Quando pisam nos meus filhos, eu viro onça ferida", justifica a primeira-mãe do PSOL.
Helena perdeu para o câncer o marido, o fiscal de renda Luis Gama de Moraes, quando Hélio, o filho mais velho, tinha três anos e Heloísa, três meses.
"Fui pai e mãe dos meus filhos. Lutei contra tudo e consegui educá-los. Sou uma sobrevivente", orgulha-se.
Mesmo tendo ficado viúva aos 26 anos, nunca quis se casar de novo. Motivo principal: não queria que os filhos tivessem um padrasto "peste" como o que ela diz ter tido.
"Eu era muito paquerada. Mas, quando vinha um querendo casar, eu dizia que tinha 18 balas para ele. Logo, o bandido sumia", conta dona Helena, que já teve dois revólveres para proteger a família, mas se desfez deles depois de sonhar que atirava num assaltante e a bala acertava em Heloísa.

Estudos em 1º lugar
Durante os anos 60 e 70, Helena só tinha a pensão mirrada do marido e os trabalhos de costureira para sustentar as crianças. Nem assim pôs Hélio e Heloísa para trabalhar cedo.
"Trabalhar antes de concluir os estudos, nunca", exclama ela, que viu o filho se formar médico e a filha, enfermeira, além de senadora e candidata a presidente.
Helena diz que se esforçava para comprar todos os livros que seus filhos pediam. Nem que para isso faltasse comida.
"Houve uma época em que só tinha batata. Eles reclamaram e eu disse: "vocês não querem tudo que é livro? Então só vão comer batata'", lembra ela, garantindo que sua pedagogia os ensinou a ter mais equilíbrio. Mas criou um problema para Hélio: ele nunca mais conseguiu comer batata doce, entojado pelo tanto que comeu na infância.
Os dois filhos nasceram no sertão, em Pão de Açúcar, onde havia uma maternidade capaz de realizar cesáreas. Helena morou com eles em Igaci, Mata Grande e, a partir de 1966, em Palmeira dos Índios. No final dos anos 70, os filhos Hélio e Heloísa foram estudar em Maceió.
Foi na capital alagoana que perderam Cosme, meio-irmão fruto de uma relação do pai anterior ao casamento com Helena. Envolvido com drogas, ele foi assassinado nos anos 80. A família crê que foi a polícia, mas nunca se provou.
"Ele não merecia isso. E, quando cheguei no cemitério, Heloísa estava sentada no chão, sozinha ao lado do caixão. A bichinha estava arrasada", recorda a mãe, com lágrimas nos olhos.
Depois que Fernando Collor, como governador, reajustou as pensões estaduais, a situação de Helena melhorou. Hoje tem dois apartamentos, ajuda netos e filhos e se prepara para, caso Heloísa fique sem mandato no fim do ano, auxiliá-la na volta para Maceió.
"Ela vai voltar a dar aulas aqui na universidade e vou ajudar em tudo o que ela precisar", promete.


Texto Anterior: Heloísa rejeita necessidade de reforma da Previdência
Próximo Texto: Elio Gaspari: Miro Teixeira mostra o caminho de Mr. Sam
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.