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Elite usa a internet para se mobilizar contra a corrupção
Grupos formados por empresários e classe média reúnem gente famosa, mas não formularam propostas de mudança
Com Sandy, Luciano Huck e Hebe, movimentos apóiam discurso empresarial sobre impostos e cobram regras transparentes na política
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Se este é o Brasil que você
quer, clique aqui."
É com base em apoios por
meio de cliques na internet, telefonemas e muita conversa
nos fóruns da rede que caminham novos grupos de protesto
formados pela classe média e
alta no rastro da crise política.
As mensagem acima é do
"Quero mais Brasil". Nascido
da discussão de empresários do
Grupo Estratégico de Competitividade da Amcham (Câmara
Americana de Comércio), reúne hoje gente famosa e se autodenomina um movimento que
quer fazer com que "o eterno
país do futuro se torne o Brasil
do presente". Apresenta-se ainda como "apartidário" e não faz
menções diretas ao governo.
"O que aconteceu foi uma
percepção. Todos estudaram,
foram trabalhar e aí bateu a crise de cidadania", diz o advogado Lincoln da Cunha Pereira
Filho, 46, um dos conselheiros
do grupo, ao lado de nomes da
Saúde, como Adib Jatene, estrelas como Luciano Huck e
empresários como Antônio Ermírio de Moraes. Com apoio
voluntário, o movimento levou
a mensagem de graça à mídia.
Nada mais distante dos movimentos sociais tradicionais,
como os sem-teto e os sem-terra, formados por aglomerações
anônimas e pauperizadas, que
conseguem espaço no noticiário graças a estratégias de ação
violentas -como a invasão da
Câmara pelo MLST, em junho.
O "Quero mais Brasil" mantém escritório em ala emprestada por uma empresa de informática. Um número telefônico
nacional para receber "apoio"
foi criado por acordo de empresas de telefonia. "Não tenho
idéia", diz, sobre as somas envolvidas, a jornalista Maria Clara do Prado, coordenadora-executiva do movimento. Segundo ela, a contabilidade é difícil porque recursos vêm principalmente de serviços e produtos doados. A proposta concreta apresentada até o momento, capitaneada pelas associações comerciais de São Paulo, foi de todos os produtos
mostrarem o quanto de imposto está embutido em seu preço,
entregue ao Congresso com
apoio de mais de 1 milhão de assinaturas. O tema foi escolhido
porque o lugar "mais sensível"
é o bolso, diz Pereira Filho, que
afirma que só consciente do
que paga a população irá exigir.
"Primos pobres" do "Quero
Mais Brasil", os integrantes do
"Reforma Brasil" também têm
feito barulho. Empresário do
setor de equipamentos hospitalares, o goiano Samuel Shael
dos Santos, 36, diz ter vendido
o carro para garantir trio elétrico e outros adereços e às manifestações públicas do movimento, articuladas no site de
relacionamentos Orkut.
"Temos bandeiras, só que
não formatadas", diz.
Recentemente, o grupo se
aproximou do PNBE (Pensamento Nacional de Bases Empresariais), com a idéia de abarcar algumas de suas propostas.
"Se não conseguirmos nada, a
gente faz um documentário",
diz Santos, que estuda cinema.
"O que eu sinto é que ainda
falta romper a barreira da ação.
Entramos muito no protesto
vazio", afirma Rosângela Giembinsky, vice-coordenadora da
Voto Consciente, que desde 87
acompanha o desempenho de
vereadores e deputados.
"A sociedade em geral está
muito insatisfeita, o que se traduz em movimentos que se manifestam de acordo com renda
e escolaridade. Um fator inovador é a internet, capaz de construir redes", diz Ana Maria Doimo, professora do Departamento de Ciência Política da
UFMG. "Mas é interessante: ao
mesmo tempo que requerem
regras transparentes, seus mecanismos de financiamento são
cada vez mais obscuros."
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