São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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Ágio na disputa pelas 12 empresas teve variação entre 1% e 242,40%

Rosane Marinho/Folha Imagem
Participantes do leilão e membros do BNDES comemoram arremate de empresa do Sistema Telebrás vendida ontem na Bolsa de Valores do Rio


CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

CLÁUDIA TREVISAN
enviada especial ao Rio

O governo brasileiro arrecadou ontem R$ 22,058 bilhões com a venda das 12 empresas nas quais dividiu o Sistema Telebrás para a privatização.
O ágio médio alcançado em quatro horas e quatro minutos de leilão foi de 63,74%, muito superior aos 17% esperados pelo governo.
Os grupos estrangeiros, principalmente espanhóis e portugueses, dominaram a disputa.
Das 12 empresas, 4 foram arrematadas por consórcios de capital externo. Em outras 6, houve associação entre capital nacional e estrangeiro. Somente 2 telefônicas foram arrematadas por grupos exclusivamente nacionais.
No leilão de ontem, foram vendidas 51,79% das ações ordinárias (com direito a voto), que representam 19,26% do capital social do Sistema Telebrás.
A disposição dos investidores surpreendeu o governo e o mercado. Antes do leilão, as estimativas mais otimistas apontavam para um ágio máximo de 100%, que seria dado para a Telesp Celular.
A distância entre o preço mínimo e o lance dado em leilão chegou a 242,40% na Tele Leste Celular, arrematada pelos espanhóis, líderes absolutos da disputa.

Consórcios estrangeiros
O ágio ficou acima de 100% em 7 das 8 empresas de telefonia celular privatizadas. Só a venda da Telesp Celular rendeu ao governo R$ 3,588 bilhões. A empresa ficou com a Portugal Telecom, que pagou ágio de 226,18%.
Sozinhos, os consórcios estrangeiros investiram R$ 8,026 bilhões, pouco mais que o dobro do total pago pelas empresas compradas exclusivamente por grupos nacionais (R$ 3,874 bilhões). Associados, capital externo e nacional investiram mais R$ 10,157 bilhões.
"Fizemos "royal straight flush"', comemorou na saída do leilão o português Miguel Horta e Costa, vice-presidente da Portugal Telecom, em referência à participação da empresa na compra das duas partes da Telesp. "Royal straight flush" é a maior cartada no jogo de pôquer.
Além do ágio, outra surpresa do leilão foi a disputa pela Embratel, cuja venda era vista com pouco otimismo pelo governo. A empresa ficou com a MCI, única norte-americana a adquirir controle de uma das empresas.
O tumulto ocorrido nas ruas próximas à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro só foi percebido no interior do prédio pelo noticiário transmitido por aparelhos de TV.
O leilão começou às 10h em ponto e ocorreu em clima de tranquilidade, sem nenhuma interferência.
O Sistema Telebrás foi vendido em três blocos de quatro leilões cada, com intervalos de uma hora entre eles.
A empresa de telefonia fixa da Telesp alcançou o maior valor e deu o tom de euforia que iria pautar o restante do leilão. O consórcio formado por empresas espanholas, a gaúcha RBS e a Portugal Telecom pagou R$ 5,78 bilhões pela telefônica, com ágio de 64,29% sobre o preço mínimo.
O segundo maior valor também foi pago por uma empresa originada do desmembramento da Telesp, a Telesp Celular.
A Portugal Telecom pagou R$ 3,59 bilhões por ela, com ágio de 226,18% sobre o preço mínimo, o segundo maior entre todas as empresas. O ágio recorde foi da Tele Leste Celular, comprada pelas espanholas Iberdrola e Telefónica por R$ 428 milhões, 242,40% a mais que o preço mínimo de R$ 125 milhões.
Praticamente todos os leilões foram definidos pelo sistema de entrega de envelopes fechados com propostas escritas. Somente em dois deles, Embratel e Tele Centro Oeste Celular, houve disputa adicional em leilões de viva-voz.
Pelas regras, essa disputa ocorreria sempre que houvesse lances iguais ou superiores a 95% do valor do maior lance.
O clima de euforia deixado pelo leilão da Telesp fixa chegou a esfriar nos outros dois leilões de empresas de telefonia fixa, a Tele Centro Sul e a Tele Norte Leste.
Elas registraram os dois menores ágios dos leilões, respectivamente 6,15% e 1%. Também não houve disputa pelo controle das duas.



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