São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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Espanhóis e portugueses formam dupla e vencem o leilão da Telebrás

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

O leilão das 12 empresas do Sistema Telebrás teve um grande vencedor: o bloco formado pela Portugal Telecom e Telefónica de España, que atuaram juntas e arremataram a Telesp Participações (maior empresa de telefonia fixa do governo) e a Telesp Celular, maior estatal de telefonia móvel.
De quebra, levaram a Tele Sudeste Celular -segunda maior telefônica celular do governo, que abrange os Estados do Rio e Espírito Santo) e a Tele Nordeste Celular. Somados, espanhóis e portugueses (com sócios nacionais) desembolsaram R$ 10,97 bilhões, ou seja, 49% do arrecadado no leilão.
Nos próximos dias, a Portugal Telecom formalizará sua entrada como sócia da Telesp Participações (rede fixa), enquanto a Telefónica de España assumirá parte das ações da Telesp Celular.
Movimento semelhante ocorrerá nas demais empresas adquiridas pelo grupo. Os portugueses terão 23% do capital da empresa que irá controlar a rede fixa da Telesp.
As garras do bloco ibérico se estendem também sobre a Embratel, cujo leilão foi vencido pela norte-americana MCI, parceira internacional da Telefónica de España e da Portugal Telecom.
Com a vitória no Brasil, ampliam a área de atuação da Telefónica Panamericana, criada pelas três em março último (com sede em Miami), para atendimento às grandes multinacionais em toda a América Latina.
Os laços entre essas empresas são tão grandes que elas têm ações umas das outras. A Telefónica tem 3,5% da Portugal Telecom, que tem 1% da Telefónica. A MCI tem 0,5% da Portugal. São participações pequenas para os padrões brasileiros, mas grandes para os padrões europeus e americanos.
A Telefónica e a Portugal Telecom já controlam a CRT, do Rio Grande do Sul, associadas ao grupo gaúcho de comunicação RBS (Rede Brasil Sul, da família Sirotsky). Com a compra da Telesp fixa, elas terão 18 meses para se desfazer das ações da CRT, pois não podem ter mais de uma concessão para telefonia fixa no país.
O novo mapa das telecomunicações no Brasil desenhado a partir do leilão ainda pode sofrer mudanças nos próximos dias. A Folha apurou que a relação entre RBS, Telefónica e Portugal Telecom estaria abalada.
A RBS é o maior grupo regional do Rio Grande do Sul e sua prioridade era a compra da Tele Centro Sul, cuja área de concessão abrange Paraná e Santa Catarina. As informações são de que a RBS desconhecia os planos de seus sócios para a compra da Telesp e teria se surpreendido com os lances oferecidos: R$ 5,78 bilhões pela rede fixa e R$ 3,58 bilhões pela Telesp Celular.
Um desfecho provável é a retirada da Telefónica e da Portugal do capital da CRT, que passaria ao controle da RBS.
Os presidentes da Telefónica de España, Juan Villalonga, e da Portugal Telecom, Francisco Luiz Murteira Nabo, estavam eufóricos com suas performances no leilão.
"São Paulo é a 'jóia da Coroa', a área mais importante da América Latina. Quem não for líder em São Paulo, não pode ser líder no resto do continente", afirmou Villalonga.
O executivo confirmou que a meta da empresa é chegar à liderança absoluta no continente latino-americano e ironizou a falta de fôlego de seus concorrentes no leilão de ontem: "Quem pode pagar mais é o líder", completou. Apesar disso, afirmou que os R$ 5,78 bilhões que ofereceu pela Telesp fixa eram seu limite.
Villalonga não quis antecipar os investimentos que serão feitos na Telesp fixa, mas mandou mensagem de tranquilidade aos funcionários da empresa. Questionado sobre a possibilidade de demissões, respondeu: "Todos poderão ficar tranquilos".
O executivo espanhol mandou também um recado à Globopar (holding das Organizações Globo) e ao Bradesco, que disputaram a Telesp fixa em consórcio com Italia Telecom e foram derrotados. Villalonga disse que vai convidá-los para se associarem à Telefónica no empreendimento, mas deixou claro que o convite não se estende aos italianos.
Igualmente eufórico estava o presidente da Portugal Telecom, Murteira Nabo, ex-ministro das Comunicações português.
"É uma grande vitória da Portugal Telecom. Atingimos todos os objetivos traçados", afirmou. Disse que a estratégia foi cumprida à perfeição, tanto no que se referia aos investimentos conjuntos com a Telefónica de España quanto aos traçados com a MCI.
A Telesp Celular tem 1,5 milhão de assinantes, enquanto a Portugal Telecom tem 1,2 milhão de clientes na telefonia móvel e 4,1 milhões de assinantes na telefonia fixa.
Murteira Nabo disse que, apesar de a Portugal Telecom ter menos assinantes de celular do que a Telesp, é uma das mais modernas da Europa e prometeu que os paulistas terão "uma das melhores empresas de telecomunicações do mundo".



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