São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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Estudantes formam maioria em ônibus

RICARDO GALHARDO
enviado especial ao Rio de Janeiro

Maria de Cássia Camargo voltava das compras, às 19h45 de terça-feira, quando viu o ônibus no qual um grupo de jovens cantava a "Internacional Socialista", no Largo do Rosário, centro de Campinas (99 km de São Paulo). "Onde vai ser o jogo?", perguntou.
A maioria dos manifestantes que saíram de Campinas, base do sindicato paulista mais empenhado no combate à venda da Telebrás, o SinTPq (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia e Pesquisa), era de jovens integrantes do movimento estudantil.
É o caso de Camila da Silva Castro, 15, estudante secundarista e integrante da Frente de Grêmios de Campinas, que foi ao Rio "lutar pelo Brasil" usando brincos com a estrela vermelha do PT.
"Minha avó não gosta", disse Camila, sobre a reação da família às suas atividades políticas.
Também é o caso de Simone Santos Lopes, 16, aluna da 8ª série da escola Newton Opperman, e militante do PC do B. Até o momento do embarque, ela não sabia se teria lugar no ônibus. Simone foi, com um cartão bancário no bolso e a esperança de encontrar uma agência do Banespa próxima ao local do leilão. "Preciso tirar R$ 30, senão vou passar fome."
A delegação campineira partiu, às 20h30. O motorista Valter João Ferreira tinha a orientação de chegar o mais perto possível da Bolsa.
Nenhum integrante do SinTPq foi no ônibus. Antes da saída, Sílvio Spinella, diretor do sindicato, deu as orientações finais: apenas duas paradas, atenção ao combinar o local de saída, voltar às 20h e, em caso de problemas com a polícia, ligar para o advogado do sindicato, que estaria de plantão.
Uma polêmica ameaça "rachar" os manifestantes. Inconformados com a ausência de bebidas alcoólicas no local da parada, dois manifestantes defenderam o desvio de itinerário para abastecimento etílico em Atibaia.
A hipótese de uma assembléia para decidir o assunto chegou a ser cogitada, mas o vereador Sebastião Arcanjo (PT-Campinas) demoveu os manifestantes.
Muita gente já dormia, às 22h45, quando o motorista decidiu fazer a segunda e última parada.
Desta vez havia cerveja e cachaça, no restaurante próximo a Aparecida do Norte. A monotonia virou festa. Os flertes do início da viagem se tornaram tórridos romances. O rap sisudo dos Racionais foi substituído pelo forró do Mestre Ambrósio. E o ônibus ferveu até a súbita (e previsível) crise de vômitos de Simone.
O sono só foi interrompido nas duas vezes que a Polícia Rodoviária parou o veículo até a chegada ao centro do Rio, às 3h55.



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