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Estudantes formam
maioria em ônibus
RICARDO GALHARDO
enviado especial ao Rio de Janeiro
Maria de Cássia Camargo voltava das compras, às 19h45 de terça-feira, quando viu o ônibus no
qual um grupo de jovens cantava a
"Internacional Socialista", no
Largo do Rosário, centro de Campinas (99 km de São Paulo). "Onde vai ser o jogo?", perguntou.
A maioria dos manifestantes que
saíram de Campinas, base do sindicato paulista mais empenhado
no combate à venda da Telebrás, o
SinTPq (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia e Pesquisa),
era de jovens integrantes do movimento estudantil.
É o caso de Camila da Silva Castro, 15, estudante secundarista e
integrante da Frente de Grêmios
de Campinas, que foi ao Rio "lutar pelo Brasil" usando brincos
com a estrela vermelha do PT.
"Minha avó não gosta", disse
Camila, sobre a reação da família
às suas atividades políticas.
Também é o caso de Simone
Santos Lopes, 16, aluna da 8ª série
da escola Newton Opperman, e
militante do PC do B. Até o momento do embarque, ela não sabia
se teria lugar no ônibus. Simone
foi, com um cartão bancário no
bolso e a esperança de encontrar
uma agência do Banespa próxima
ao local do leilão. "Preciso tirar
R$ 30, senão vou passar fome."
A delegação campineira partiu,
às 20h30. O motorista Valter João
Ferreira tinha a orientação de chegar o mais perto possível da Bolsa.
Nenhum integrante do SinTPq
foi no ônibus. Antes da saída, Sílvio Spinella, diretor do sindicato,
deu as orientações finais: apenas
duas paradas, atenção ao combinar o local de saída, voltar às 20h
e, em caso de problemas com a polícia, ligar para o advogado do sindicato, que estaria de plantão.
Uma polêmica ameaça "rachar" os manifestantes. Inconformados com a ausência de bebidas
alcoólicas no local da parada, dois
manifestantes defenderam o desvio de itinerário para abastecimento etílico em Atibaia.
A hipótese de uma assembléia
para decidir o assunto chegou a
ser cogitada, mas o vereador Sebastião Arcanjo (PT-Campinas)
demoveu os manifestantes.
Muita gente já dormia, às 22h45,
quando o motorista decidiu fazer
a segunda e última parada.
Desta vez havia cerveja e cachaça, no restaurante próximo a Aparecida do Norte. A monotonia virou festa. Os flertes do início da
viagem se tornaram tórridos romances. O rap sisudo dos Racionais foi substituído pelo forró do
Mestre Ambrósio. E o ônibus ferveu até a súbita (e previsível) crise
de vômitos de Simone.
O sono só foi interrompido nas
duas vezes que a Polícia Rodoviária parou o veículo até a chegada
ao centro do Rio, às 3h55.
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