São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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PERNAMBUCO
300 sem-terra levam 12 toneladas de alimentos; segundo líder, ato foi também protesto contra venda da Telebrás
MST faz terceiro saque em dois dias

VANDECK SANTIAGO
da Agência Folha, em Recife


O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realizou ontem o terceiro saque em Pernambuco nos últimos dois dias.
Foram levados 12 toneladas de alimentos enlatados de um caminhão que foi interceptado na BR-101, em Gameleira (92 km de Recife). "Saqueamos para matar a fome, mas o ato foi também um protesto contra a venda da Telebrás", disse Carlos da Silva Brasileiro, 24, um dos líderes do MST em Pernambuco.
O ato faz parte de uma retomada dos saques organizados pelo MST no Estado. Na última segunda-feira, sete caminhões foram saqueados na Zona da Mata e no sertão.
As ações acontecem às vésperas da visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a Pernambuco, prevista para amanhã.
Jaime Amorim, líder do MST, disse que "uma coisa nada tem a ver com outra". O saque foi o 21º organizado pelo MST no Estado e o 11º em rodovias desde o agravamento da seca, em maio.
Gameleira fica na Zona da Mata e não está incluído entre os 127 municípios do Estado atingidos pela seca. "Aqui não tem seca, mas também não tem emprego, não tem comida, não tem nada. E aí? O pessoa vai comer o quê? Chuva?", disse Brasileiro.
O caminhão saqueado ontem transportava carga da indústria Cica, procedente de São Paulo, com destino a Recife. Estava carregado com ervilhas, extrato de tomate, margarina e azeitona.
Cerca de 300 sem-terra de cinco acampamentos participaram do saque, que aconteceu por volta das 8h. Eles ficaram de pé na pista e atacaram o primeiro caminhão que passou pelo local, forçando o motorista a conduzi-lo ao acampamento São Gregório, a cerca de 300 metros de distância.
Um carro da PM, com cinco homens, chegou ao acampamento cerca de 20 minutos depois, quando os sem-terra só tinham descarregado cerca de metade da carga.
Para tentar dispersar os saqueadores, os policiais dispararam tiros de revólver para cima. Houve correria, mas ninguém foi ferido.
Não houve prisões. A equipe dos PMs era comandada pelo capitão Israel Alves, que não foi encontrado pela Agência Folha.
O caminhão (com metade da carga) e o motorista foram liberados. A orientação do governador Miguel Arraes (PSB) para a PM é que a corporação evite conflitos com os sem-terra.
O MST planejava saquear pelo menos três outros caminhões ontem, em Gameleira, mas, devido à interferência da PM, as ações foram adiadas, segundo Brasileiro.



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