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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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TRANSPORTES

Menicucci se diz vítima de agressões políticas"

Ministério nomeia empreiteiro falido para cargo no extinto DNER

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro dos Transportes, Anderson Adauto, nomeou o empreiteiro falido Flávio Goes Menicucci para "apagar as luzes" do extinto DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens). O mesmo Menicucci havia sido contratado pelo governo Fernando Henrique Cardoso para dirigir o DNER de Minas em 1997 -episódio que provocou muita polêmica na época.
Menicucci foi nomeado na última segunda-feira como assessor especial temporário DAS 4, com salário de R$ 4.850.
Adauto justificou a escolha: "Ele [Menicucci] conhece bem o DNER e, na pesquisa que fizemos dele, não houve nada que o desabonasse". Adauto não disse, mas tal "pesquisa" costuma ser feita pela Casa Civil.
Ainda na versão do ministério, Menicucci foi indicado pelo deputado federal Saraiva Felipe (PMDB-MG) e é "conhecido" do ministro Adauto, do PL de Minas.
Sua função será encerrar os últimos contratos e convênios que persistem no órgão, transformado durante o governo passado em Dnit (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes).
"Ele não vai mexer com obra, nada. Será um dos três assessores para cuidar de convênios ainda abertos, questões de pessoal, questionamentos do TCU que devem ser respondidos. Vai cuidar da burocracia para apagar a luz do que restou do DNER e está em liquidação", disse Adauto.

Outro lado
Menicucci disse que foi indicado para o cargo por Saraiva Felipe e pelo deputado Ivo José (PT-MG). Afirmou que nos últimos dois anos vinha trabalhando por conta própria, prestando assessoria e consultoria a empresas privadas "na área rodoviária".
Ele se disse vítima de agressões políticas. "Passou a fase política, acabaram-se os problemas", afirmou ele, acrescentando que esses problemas foram "reportagens negativas da Folha na época".
Em 1997, a nomeação de Menicucci para o comando do DNER de Minas foi objeto de contestação. Ele era dono da Construtora Nascimento Valadares, que teve falência decretada em agosto de 1996, deixando dívidas no mercado de R$ 500 mil. Entre os credores estavam a Caixa Econômica Federal e o Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais).
Menicucci sofria também, como pessoa física, ação de execução movida pelo Bemge na 9ª Vara Cível, por não pagar um empréstimo de cerca de R$ 60 mil.
As duas nomeações para o DNER enfrentam reações negativas também por outro motivo: ele é filho do empreiteiro Roberto Menicucci, ex-secretário de Obras no governo Newton Cardoso em Minas e seu caixa de campanha.
A acusação de setores da oposição, inclusive dentro do PMDB, é a de que o governo Lula recorre aos mesmos instrumentos do governo FHC: usa cargos como moeda de troca, mesmo quando o nomeado não é o técnico ideal.


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