São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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PÚBLICO & PRIVADO

Das 39 administrações do partido no Estado, em 17 há o vínculo

Prefeituras do PT contratam empresas de petistas em SP

CHICO DE GOIS
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 44% das prefeituras administradas pelo PT no Estado de São Paulo contrataram empresas de pessoas ligadas ao partido. Em todos os casos, pelo menos um dos donos trabalhou na administração pública e depois abriu sua empresa privada.
O PT administra hoje 39 cidades em São Paulo. Dessas, a Folha localizou contratos com empresas ligadas a petistas em 17 casos. Também há negócios em pelo menos mais seis cidades que foram administradas pelo PT ou estão localizadas em outros Estados, além do Distrito Federal.
Os serviços variam de propaganda e consultoria a coleta de lixo. Há locais em que o Ministério Público ou CPIs investigam suposto favorecimento. Em outros, o TCE (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) apontou irregularidades na contratação.
A maioria das empresas argumenta que não trabalha apenas para administrações petistas. As prefeituras afirmam que as contratações obedeceram todos os trâmites legais e que não houve beneficiamento. Além disso, dizem que os trabalhos foram contratados em vista do menor preço.

Consultoria
A maior especialidade das empresas é no ramo de consultoria. A Peruzza & Caporucci, cujos sócios são Marco Antônio Peruzza e Moacir Caporucci, ajuda as prefeituras de Bebedouro e de Pitangueiras a se enquadrarem na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Peruzza foi secretário de Governo de Jaboticabal até o início deste mês, quando se desligou para trabalhar na campanha de candidatos a deputado do partido na região. Caporucci é militante do PT de Guariba.
Na área de publicidade, a PG Comunicação, que tem como diretor Eduardo Godoy, ex-coordenador de Comunicação do governo do Mato Grosso do Sul no início do mandato do governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, trabalha para as prefeituras petistas de São Paulo, Guarulhos, Campinas e Mauá, e já prestou serviços para Catanduva e Ribeirão Pires.
A empresa pertence a Patrícia Bérgamo, mulher de Eduardo Godoy. Ele trabalhou nas campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 1998 e de Marta Suplicy ao governo do Estado de São Paulo, no mesmo ano.
Criada em 1996, com um capital social de R$ 50 mil, a PG aumentou em 14 vezes esse valor e hoje possui um capital de R$ 700 mil.
Em 2001, a PG integrou um consórcio com a Makplan e a Agnelo Pacheco e ganhou um contrato na Prefeitura de São Paulo no valor de R$ 20 milhões, por um ano. O TCE considerou irregular o contrato firmado entre a PG e a Prefeitura de Mauá.
Outra que atua na área de publicidade é a Impacto Consultoria e Marketing. A empresa foi fundada em novembro de 2000 por Sebastião de Deus Moreira e Luiz Gonzaga Bussola.
Moreira foi secretário de Governo de Matão na gestão de Adauto Scardoelli (1997-2000) e Bussola foi superintendente da Caema (Companhia de Água e Esgoto de Matão) no mesmo período.
A Impacto trabalhou para as administrações municipais petistas de Araraquara, Pitangueiras, Dobrada e Rincão.

Limpeza urbana
O serviço de limpeza urbana também tem empresas de petistas no mercado.
A Engelix tem como principal sócio Nelson Frateschi, ex-administrador regional da Lapa durante a gestão de Luiza Erundina (1989-92) e irmão do presidente do diretório estadual do PT, Paulo Frateschi.
A Engelix foi fundada em 1993, logo depois que Nelson saiu da prefeitura. Desde então, já prestou serviços para o Distrito Federal, na época do ex-governador Cristovam Buarque, e para as prefeituras de Franca, Catanduva, Franco da Rocha, Angra dos Reis (RJ), Belém (PA) e Itabuna (BA).
A Engelix atua principalmente na parte técnica, enquanto a Construrban, de Ubiratan Sebastião de Carvalho, ex-administrador regional de Santo Amaro também na gestão Erundina, trabalha na coleta.
A Construrban já trabalhou para São Paulo, Franca e Betim (MG). Uma CPI instalada na Câmara Municipal de Franca, no ano passado, questionou um suposto favorecimento da empresa.

Palocci
Ex-secretário de Governo de Ribeirão Preto durante a primeira gestão de Antônio Palocci (1993-96), Rogério Buratti criou a Assessorarte em 1994, logo depois que deixou a prefeitura.
Ele era considerado o homem forte da administração Palocci e foi exonerado pelo prefeito em outubro daquele ano, depois de suspeitas de distribuição prévia de obras públicas da cidade.
A Assessorarte trabalha principalmente na preparação de concursos públicos. Pelo menos sete prefeituras do PT já contrataram seus serviços: Franca, Araraquara, Batatais, São Simão, Rincão, Sales Oliveira e Matão (na administração anterior).
O outro sócio da Assessorarte é Luiz Prado, ex-superintendente do IPM (Instituto de Previdência dos Municipiários) no primeiro governo de Palocci e ex-secretário de Administração de Jaboticabal na gestão do petista José Giácomo Baccarin, que concorre a suplente de senador na chapa de Aloizio Mercadante (PT).
Para a preparação de editais, algumas prefeituras petistas contrataram a Rodvias Engenharia Municipal, de Ricardo Pereira dos Santos, ex-secretário de Obras de Santos durante a administração de Davi Capistrano (1993-96).
A Rodvias trabalhou para as prefeituras de Santo André, Mauá e Belém (PA). O Ministério Público de São Paulo investiga um suposto favorecimento à empresa.
Em Santo André, o ex-secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Souza, que trabalhou com Ricardo em Santos, contratou a empresa para prestar serviços na cidade. No total, a Prefeitura de Santo André manteve R$ 6,8 milhões em contratos com a Rodvias.
Em 2001, a Prefeitura de Bebedouro contratou a Gushiken e Associados, do ex-deputado federal e ex-coordenador da campanha de Lula, Luiz Gushiken. A empresa, que tem contrato com a prefeitura, faz um trabalho de cálculo atuarial para a criação do Instituto de Previdência Municipal.


Colaborou EVANDRO SPINELLI, da Folha Ribeirão


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